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segunda-feira, 25 de julho de 2016
O Gênio Zé de Graça ( Cap. 14 )
Em 1920 Zé de Graça era um rapazinho franzino e muito curioso. Em Frei Paulo, poucos tinham naquela época o privilégio de estudar. Naqueles dias de muita dificuldade o seu maior sonho era aprender a ler e escrever. Tinha verdadeira fixação em publicações , as revistas em preto e branco com seus clichês era um mundo desconhecido e fascinante. Folheava-as com avidez e nem os reclames passavam incólumes por sua visão aguçada. Foi num dia de grande festa na cidade que ele trajando bermuda de linho branco assistiu ao discurso do Dr. Gentil Tavares e este leu o decreto do Governador Pereira Lobo que elevava a Vila de São Paulo a categoria de cidade. Após o discurso o ilustre orador em meio a efusivos aplausos entregou os rabiscos com o decreto ao jovem Zé de Graça. O major Tibério Bezerra, o primeiro prefeito de Frei Paulo designou uma professora para dar algumas lições ao jovem ao ver seu grande interesse pela leitura. Então D. Natinha, uma velha professora de Itabaiana, que estava de férias em Frei Paulo lhe ensinou as primeiras letras, as sílabas, palavras e números. Ela disse que ficou espantada com a rapidez com o qual ele aprendeu a ler e escrever. Em poucos dias já devorava obras de importantes vultos da literatura brasileira. Era apaixonado pelas crônicas e poemas de Machado de Assis. Sua caligrafia impressionava , beirava a perfeição. Passava horas e horas do seu dia destrinchando a velha gramática que as vezes provocava espirros devido ao morfo e ao pó de suas páginas. Com parcas economias comprou uma taboada e aprendeu a fazer contas. Naquela mesma noite festiva, enquanto a União Lira Paulistana entoava seus dobrados e muitos faziam festa com muita alegria ele em casa tentava decifrar as palavras ali escritas. Aprendeu a ler praticamente sozinho e isso para ele foi como a descoberta da pólvora . Uma semana depois já lia tudo com muita desenvoltura. Parava diante das rodas de amigos, que naquele tempo contava-se estórias de trancoso e ele lia sem titubear os cordéis sobre arquétipos do inconsciente sertanejo. Todos se deleitavam e aplaudiam suas leituras de Cancão de Fogo, dando ênfase as rimas e fazendo suspense das histórias e anedotas contadas. Os temas incluem fatos do cotidiano, episódios históricos, lendas, temas religiosos, entre muitos outros. As façanhas do cangaceiro Lampião (Virgulino Ferreira da Silva, 1900-1938 não podia faltar. Nunca foi a uma escola tradicional, era um autodidata. Lia tudo que lhe chegava às mãos e tinha uma vocação inata pela ciência. Amante das artes, um dia lhe chegou às mão um exemplar da Revista Antropofágica sobre a semana de arte moderna que ocorreu em 1922. Participaram da Semana nomes consagrados do modernismo brasileiro, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos,Tácito de Almeida, Di Cavalcanti entre outros. Ficou impressionado com o que a leitura podia lhe proporcionar. Em alguns anos depois, já era um intelectual, mas muito discreto, não gostava de demonstrar seus conhecimentos e sabedoria. Dado ao convívio de pessoas simples e humildes, procurava viver de acordo com eles sem ostentar sabedoria. Mas as atividades práticas lhe seduzia principalmente mexer em máquinas e muito cedo se tornou um profissional respeitado nesta área. Os seus estudos emprestou régua e compasso para a produção de seus inventos, dos mais simples que qualquer mortal seria capaz de fazer aos mais complexos que o tornaria mais tarde um verdadeiro e autêntico gênio. Mas era a genialidade disfarçada e dotada de extrema humildade. Após a segunda grande guerra era um homem feito então influenciado pelo maestro Aristídes, comandante da União Lira Paulistana iniciou seus estudos musicais e aprendeu a tocar sax. Foi contemporâneo de João de Santa e do sargento Genésio nos estudos musicais. Eram dedicados ao estudo profundo das partituras e executavam com maestria os dobrados tão apreciados em festas cívicas e nas datas de comemoração da Festa de São Paulo, padroeiro da cidade de Frei Paulo.
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