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quarta-feira, 6 de julho de 2016
O Gênio Zé de Graça ( Cap. 2 )
Zé de Graça jamais foi um homem de pouca leitura, mas também possuía a humildade como uma das suas principais armas, amava o anonimato e ainda jovem a sua paixão pela ciência era evidente. Suas atividades laborais desde a juventude se dividia entre sua oficina eletrônica e a roça com o plantio de milho, feijão e mandioca para subsistência nunca para o lucro de sua produção agrícola que mesmo em tempos remotos já buscava a sustentabilidade que tanto se fala nos dias atuais . Promovia um aproveitamento total de suas plantações e após a colheita um motor barulhento tratava de triturar o que restava da colheita para devolver à terra como um tributo, mantendo sempre o solo fértil e organicamente adubado. Passava horas na roça pastorando suas espigas, muitas vezes lembrava um espantalho em pé à sobra de uma quixabeira, lendo obras de Julio Verne, foi o escritor francês criador da ficção científica que o inspirou a criar inventos e a desenvolver o gosto pela mecânica e pela eletrônica. Nas tardes trancava-se em sua oficina para atender a vasta clientela donos de velhos rádios transistores. Alguns pipocavam, esfumaçavam e eram levados a Zé de Moura e este decretava sua inutilidade. Na oficina de Zé de Graça voltavam à vida quase que por magia, sua habilidade ímpar ressuscitava até mesmo velas queimadas dos velhos rádios, era outra fonte de renda talvez a principal.
Mas dinheiro para ele é o que menos importava, não fazia questão de cobrar pelos serviços, as vezes dizia ao cliente dê quanto achar que vale. Mas também tinha épocas que os velhos aparelhos ficavam por meses sobre as prateleiras empoeirados sem que ele demonstrasse interesse por eles. Apaixonou-se pelas obras de Verne e principalmente por histórias futuristas e muito reais, os livros de Verne tornaram-se populares em todo o mundo. O mais famoso, considerado sua obra-prima, é Vinte mil léguas submarinas, que conta a história do capitão Nemo e seu submarino, Nautilus. Júlio Verne escreveu essa história em 1873, quando não havia tecnologia para construir um submarino! O primeiro veículo desse tipo só foi feito 25 anos após a publicação do texto.
Quando Zé de Graça resolveu fabricar o seu avião não estava em nada imitando Santos Dumont, usou meio motor de fusca (apenas dois pistons) para dar arranque a engenhoca que por meses desenhou meticulosamente, era um perfeccionista incorrigível. O modelo fora inspirado nos filmes sobre a segunda grande guerra. O projeto levou cerca de cinco anos para ser concluído e voou sem problema já no primeiro teste. As noções de aerodinâmica eram natas no seu fascinante conjunto de talentos. O uso da gasolina convencional atrapalhava um pouco os voos com falhas até perigosas no motor. Mas um amigo conterrâneo, que por sinal era próspero comerciante em Salvador, o presenteou com um galão de 50 litros de gasolina azul, usada em aeronaves de pequeno porte. Usou a aeronave para voos panorâmicos sobre as paisagens belas dos arredores de Frei Paulo com direito a rasantes nos vales que acompanha as Serras Pretas e Serra das Campinas e claro na Serra Redonda que sempre circulava antes de pousar. Com o passar dos anos tornava-se cada vez mais reflexivo e a noite antes de dormir lia e relia Eclesiastes E dizia, já sonolento, a si mesmo: "Tudo tem seu tempo determinado, tempo de voar e tempo de pousar" obviamente isso não existe no livro sagrado, mas ele pensou, isso ele pensou.
Mas um dia ele desmontou o avião sob o pretexto puro e simples de dar manutenção, nunca mais o remontou , apenas uma asa de alumínio sobrou e ficou no alpendre da casa no Beco da Santa, o restante das peças foram utilizadas em outros inventos ao longo dos anos. Era também sua preferência desenvolver inventos de pouca complexidade. Uma alavanca que baixava e levantava a sela da sua bicicleta e também um grampo que interligava as telhas de sua casa que não permitia que elas se movessem em qualquer direção durante as tempestades de verão.
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