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quarta-feira, 3 de agosto de 2016
O Gênio Zé de Graça ( Cap. 15 )
Zé Graça aprendeu a ler, mas isso para ele não seria o suficiente, sentia sede e fome de saber. Sentia sobretudo, falta da escola. E escola naquele tempo era coisa de rico. O ensino no passado, era ligado à figura única do mestre escola. É uma espécie de professor coringa, sabedor de todas as disciplinas e detentor da instrução. Alguns abastados filhos de fazendeiros tinham esse privilégio e seus pais os colocavam na escola na esperança de ver seus filhos doutores num futuro alvissareiro. Mas Zé, era muito pobre e não possuía nada além de algumas roupinhas, aos 12 anos, cheio de inocência, era um menino meio absorto. Havia até quem dissesse que era meio retardado. A vontade de querer estudar contava com a oposição dos pais era muito comum os conselhos para se dedicar à roça "que é muito mais rentável." Havia também a crença que filho letrado viria futuramente a querer mandar nos pais. As mulheres estas é que eram raras nas escolas pois pregava-se abertamente que deveriam ser donas de casa obedecer ao marido e cuidar dos filhos. Mas mesmo a contragosto dos pais Zé de Graça que a essa altura já sabia ler conseguiu convencer o mais famoso mestre escola de Frei Paulo a admitir ele como aluno. O maior e mais tarimbado mestre escola de Frei Paulo foi o professor Manoel Joaquim Fiapo. Era o pai de Dona Dalila .Ele prestou um relevante serviço ao povo freipaulistano no início do século passado, instruindo várias gerações. Naquele tempo estar formado era ter o curso primário, quatro anos e estava formado. O ginásio só seria fundado muitas décadas depois. Quem quisesse seguir os estudos teria que ir morar na Vila de Itabaiana. Mesmo assim, Zé era um jovem realizado pois sabia que não ia fazer o curso ginasial nem tampouco ser doutor. Mas orgulhava-se de ser excelente aluno em aritmética, Caligrafia, e o melhor de todos em conhecimentos gerais. Quando terminou o curso o mestre escola que foi homenageado como nome de rua o designou para ser o orador da turma . Era uma terça feira de 1923 ele estava impecável , calça de linho branco , camisa branca de brim, ao lado de uma mesa ornada com flores de papel crepom. Iniciou descrevendo um dia importante de sua vida. “Querido mestre escola, estimadíssimos colegas, é com muita emoção que hoje concluo meus estudos. Mas prometo que jamais deixarei os livros e o conhecimento. Hoje me sinto o jovem mais tranquilo do mundo, lembro que há 13 anos , quando da passagem do cometa Haley aqui na terra, eu me deixei levar pelo medo e pela ignorância acreditando piamente que o mundo iria acabar naquele dia. Com muita angústia fiquei acordado aquela madrugada observando a passagem triunfal desse cometa brilhante de período intermediário que retorna às regiões interiores do Sistema Solar a cada 75,3 anos, aproximadamente. Sua órbita em torno do Sol está na direção oposta à dos planetas e tem uma distância de periélio de 0,59 unidades astronômicas; no afélio, sua órbita estende-se além da órbita de Netuno. Foi o primeiro cometa a ser reconhecido como periódico, descoberta feita por Edmond Halley em 1696 . Naquele dia tremi como vara verde diante dos ventos e da tempestade incessante, mas hoje trazido à luz do saber, sinto-me seguro. Obrigado, digo a todos vocês, de cátedra, que em 1910, uma série de notícias a respeito do cianogénio, gás letal presente na cauda do cometa, criou um clima de pânico à escala global. Hoje, graças a vocês, conhecedor da verdade, aprendiz do mundo, com a alma tranquila e a consciência cósmica, sinto-me um soldado da ciência, pronto para a próxima visita do cometa em nossa querida Frei Paulo.” Assim encerrou seu discurso de formatura e diante de um clima de perplexidade, Manoel Fiapo, puxou as palmas que ecoaram no salão paroquial.
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