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segunda-feira, 25 de julho de 2016
O Gênio Zé de Graça (cap. 13)
Com a mente constantemente ocupada na elaboração e execução de seus projetos , Zé de Graça sentia-se eternamente jovem. O vai e vem na bicicleta e o trabalho na roça , atividade física diária conferia a ele uma boa saúde. Mas quando começou a soar as trombetas da década de 80, sentiu que a velhice havia chegado. Naquela manhã ficou um bom tempo diante do espelho e viu com seus próprios olhos o rosto coberto de rugas. O silêncio pairou enquanto apreciava seus olhos tão sonhadores rodeados de infinitas pálpebras e melancolia. A cabeleira rala e branca sobre a cabeça. O velho corpanzil branco erguido na penumbra era o retrato da velhice que chegou sem nem ao menos avisar. Ele não notou nenhuma mudança em sua mente, pois a própria existência foi de moderação e serenidade. Mas um fastio tomou conta de sua rotina, não tocava mais o sax, vivia encostado num canto do quarto como uma peça de decoração. O silêncio do instrumento se misturava com o seu próprio silêncio e diante de muitas dores preferia a reclusão. Sua ida a feira ou a igreja tonou-se rara. Recebia em casa a visita de alguns amigos e mantinha um semblante alegre. Mas sua voz era fraca e terna. A debilidade física com o passar dos anos dizia no seu âmago que a velhice chegou pra ficar. Agora passava os dias como quem nada mais esperava da vida, a não ser a perda dos amigos de sua geração. As noticias lhe chegavam da morte deles e Zé de Graça sentia-se triste e moribundo. Em seus estudos e experiências sentia-se impotente diante da velhice. Afinal era um ser humano como outro qualquer. As melhores coisas da velhice que são a experiência e a sabedoria que já lhe foi dado muito cedo, ainda jovem já se comportava como um ancião, ponderado e sempre resignado diante dos desafios e das mazelas que a vida lhe impusera. Passou a caminhar lentamente, a tomar sol, se dirigia a praça com um pijama manchado de café, gostava de conversar com o alfaiate Antônio de Benedito e também com Seu Maroto e seu Janjão este sempre à sombra ali ao lado da prefeitura vivia sua velhice em paz num íntimo regalo a bordo de uma cadeira conhecida como preguiçosa. A paz e a tranquilidade de Frei Paulo lhe permitia uma velhice tranquila . Mas sua mente fervilhava porque tinha muita coisa para ensinar mas não sabia como. Quem pararia para lhe ouvir além dos poucos e velhos amigos. Ademais, muitas de suas experiências teve que levar para o túmulo pois tinha muito medo de passar por mentiroso, isso para ele era uma questão de honra. Um dia em seu quarto, procurou lembrar de uma frase de Orcar Wilde, mas a memória o traia. Pegou então um caderno embaixo do colchão onde anotava frases que gostava e folheando encontrou:” Não quero adultos nem chatos./Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;/e velhos, para que nunca tenham pressa.” Por isso nas conversas com os amigos sempre omitiu fatos que lhe pareceriam absurdos. Voltava para casa e se dedicava a invertar coisas, coisas as vezes banais para quem possuía uma mente tão ilustrada. Assim o velho cata-vento foi adaptado para uma engrenagem que permitia pilar café em dois pilõezinhos. Ficava sorrindo enquanto o vento realizava a terefa, degustava o café enquanto olhava fixo para o nada. Isso o mantinha vivo e a cada descoberta era como se o gosto da infância voltasse a sua boca. “se envelhece conforme se vive”
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