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quinta-feira, 21 de julho de 2016

O Gênio Zé de Graça ( Cap. 12 )



Acordou disposto e partiu para um passeio lá pra bandas do açude. Passou em frente a Pharmacia e cumprimentou Zé Caxeiro. Este preocupado lhe indagou: E aí seu Zé melhorou da tosse? Balançou a cabeça e perguntou: de que é feito aquele xarope? Zé Caxeiro sorriu e disse: é uma fórmula muito antiga e eficaz para arrancar qualquer catarro do peito e melhorar a saúde. É famoso esse xarope no Brasil inteiro. Zé de Graça rindo completou: em todo o universo. Zé Caxeiro desconversou e voltou a seus afazeres. Desceu a ladeira e chegou ao Tanque dos Cavalos, sentou-se numa baraúna caída para dentro de suas aguas barrentas e entre o reverberar das crianças em brincadeiras sem fim começou a refletir mais uma vez sobre o destino da raça humana, que estaria fadada a destruição. Isso ele pode constatar in loco em sua última viagem na máquina do tempo. Também alguns textos que não conseguia traduzir,deixava incerto a data exata de todos esses eventos desastrosos que aguardaria a humanidade. Olhou a paisagem demoradamente apreciando os montes e os campos verdejantes, a Serra da Miaba a sua frente era de cor azulada e atrás, num giro estava a Serra Preta, Serra das Campinas e Serra Redonda, o seu olhar sereno se espraiava pelo relevo e imaginava a visão da terra devastada, um imenso deserto sem vida e sem esperança. Pensou no desespero das pessoas e das filas para entrar nas naves que as levariam inutilmente a Júpiter ou a Saturno com seus anéis de cores incríveis. E quando a energia findasse. O que seria de Seu Nezinho , do compadre Justiniano. Do Seu Gumercindo, do amigo João Dias? O que seria de todos os seus patrícios? Ele já sabia o que estava por vir: o sol o astro rei e mantenedor da vida, entraria em colapso e logo explodiria e passaria de uma estrela do tipo anã amarela para se tornar uma gigante vermelha. O calor certamente destruiria todo o nosso sistema solar. E também quem resistiria a radiação que emanaria dessas explosões? Sabendo do inevitável, desistiu de ir ao açude e pedalou vigorosamente de volta a sua casa e foi direto a seu quintal e com base em previsões dos Maias, foi ao ano de 2012 tirar sua dúvida. A cabine da máquina do tempo foi construída com a lataria da velha Kombi dirigida por Milton, abandonada em uma garagem em frente ao monturo. Era conhecida como A Assistência .A engenhoca conservava a direção e até a sirene. Mas ao invés de motor, possuía um complexo sistema feito a partir de restos de rádios e uma espécie de reator construído a partir de sucatas do velho fomento . Na parte traseira um tanque de nitrogênio. Ao acionar a alavanca subiu novamente de forma vertiginosa e em segundos pousou por trás da malhada de Quebra Santo próximo ao tanque de Seu Silva. Então colocou um chapéu côco na cabeça para disfarçar e deu uma volta na moderna cidade de Frei Paulo do ano de 2012. Ficou admirado e ao passar no Bêco da Santa viu que sua casa não mais existia estava tudo diferente, admirou-se com os carros nas ruas e foi ao velho coreto. Onde teria ido todos os seus contemporâneos? Poucos ele reconheceu. Viu Zé Correia bem velhinho em sua bodega com seus cabelos brancos, há pouco havia passado por ele com seus cabelos pretos e brilhantes. A Pharmácia não existia mais, viu desolado. Viu o Coreto a igreja e que muita coisa havia mudado enfim. Mas a vida seguia seu curso. Sem ser reconhecido por ninguém, entrou na máquina do tempo e ajustou para 1972 e voltou ao seu quintal sossegado e feliz porque as previsões do fim do mundo difundida pelos Maias não se concretizaram.

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