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segunda-feira, 25 de julho de 2016

O Gênio Zé de Graça ( Cap. 14 )


Em 1920 Zé de Graça era um rapazinho franzino e muito curioso. Em Frei Paulo, poucos tinham naquela época o privilégio de estudar. Naqueles dias de muita dificuldade o seu maior sonho era aprender a ler e escrever. Tinha verdadeira fixação em publicações , as revistas em preto e branco com seus clichês era um mundo desconhecido e fascinante. Folheava-as com avidez e nem os reclames passavam incólumes por sua visão aguçada. Foi num dia de grande festa na cidade que ele trajando bermuda de linho branco assistiu ao discurso do Dr. Gentil Tavares e este leu o decreto do Governador Pereira Lobo que elevava a Vila de São Paulo a categoria de cidade. Após o discurso o ilustre orador em meio a efusivos aplausos entregou os rabiscos com o decreto ao jovem Zé de Graça. O major Tibério Bezerra, o primeiro prefeito de Frei Paulo designou uma professora para dar algumas lições ao jovem ao ver seu grande interesse pela leitura. Então D. Natinha, uma velha professora de Itabaiana, que estava de férias em Frei Paulo lhe ensinou as primeiras letras, as sílabas, palavras e números. Ela disse que ficou espantada com a rapidez com o qual ele aprendeu a ler e escrever. Em poucos dias já devorava obras de importantes vultos da literatura brasileira. Era apaixonado pelas crônicas e poemas de Machado de Assis. Sua caligrafia impressionava , beirava a perfeição. Passava horas e horas do seu dia destrinchando a velha gramática que as vezes provocava espirros devido ao morfo e ao pó de suas páginas. Com parcas economias comprou uma taboada e aprendeu a fazer contas. Naquela mesma noite festiva, enquanto a União Lira Paulistana entoava seus dobrados e muitos faziam festa com muita alegria ele em casa tentava decifrar as palavras ali escritas. Aprendeu a ler praticamente sozinho e isso para ele foi como a descoberta da pólvora . Uma semana depois já lia tudo com muita desenvoltura. Parava diante das rodas de amigos, que naquele tempo contava-se estórias de trancoso e ele lia sem titubear os cordéis sobre arquétipos do inconsciente sertanejo. Todos se deleitavam e aplaudiam suas leituras de Cancão de Fogo, dando ênfase as rimas e fazendo suspense das histórias e anedotas contadas. Os temas incluem fatos do cotidiano, episódios históricos, lendas, temas religiosos, entre muitos outros. As façanhas do cangaceiro Lampião (Virgulino Ferreira da Silva, 1900-1938 não podia faltar. Nunca foi a uma escola tradicional, era um autodidata. Lia tudo que lhe chegava às mãos e tinha uma vocação inata pela ciência. Amante das artes, um dia lhe chegou às mão um exemplar da Revista Antropofágica sobre a semana de arte moderna que ocorreu em 1922. Participaram da Semana nomes consagrados do modernismo brasileiro, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos,Tácito de Almeida, Di Cavalcanti entre outros. Ficou impressionado com o que a leitura podia lhe proporcionar. Em alguns anos depois, já era um intelectual, mas muito discreto, não gostava de demonstrar seus conhecimentos e sabedoria. Dado ao convívio de pessoas simples e humildes, procurava viver de acordo com eles sem ostentar sabedoria. Mas as atividades práticas lhe seduzia principalmente mexer em máquinas e muito cedo se tornou um profissional respeitado nesta área. Os seus estudos emprestou régua e compasso para a produção de seus inventos, dos mais simples que qualquer mortal seria capaz de fazer aos mais complexos que o tornaria mais tarde um verdadeiro e autêntico gênio. Mas era a genialidade disfarçada e dotada de extrema humildade. Após a segunda grande guerra era um homem feito então influenciado pelo maestro Aristídes, comandante da União Lira Paulistana iniciou seus estudos musicais e aprendeu a tocar sax. Foi contemporâneo de João de Santa e do sargento Genésio nos estudos musicais. Eram dedicados ao estudo profundo das partituras e executavam com maestria os dobrados tão apreciados em festas cívicas e nas datas de comemoração da Festa de São Paulo, padroeiro da cidade de Frei Paulo.

O Gênio Zé de Graça (cap. 13)


Com a mente constantemente ocupada na elaboração e execução de seus projetos , Zé de Graça sentia-se eternamente jovem. O vai e vem na bicicleta e o trabalho na roça , atividade física diária conferia a ele uma boa saúde. Mas quando começou a soar as trombetas da década de 80, sentiu que a velhice havia chegado. Naquela manhã ficou um bom tempo diante do espelho e viu com seus próprios olhos o rosto coberto de rugas. O silêncio pairou enquanto apreciava seus olhos tão sonhadores rodeados de infinitas pálpebras e melancolia. A cabeleira rala e branca sobre a cabeça. O velho corpanzil branco erguido na penumbra era o retrato da velhice que chegou sem nem ao menos avisar. Ele não notou nenhuma mudança em sua mente, pois a própria existência foi de moderação e serenidade. Mas um fastio tomou conta de sua rotina, não tocava mais o sax, vivia encostado num canto do quarto como uma peça de decoração. O silêncio do instrumento se misturava com o seu próprio silêncio e diante de muitas dores preferia a reclusão. Sua ida a feira ou a igreja tonou-se rara. Recebia em casa a visita de alguns amigos e mantinha um semblante alegre. Mas sua voz era fraca e terna. A debilidade física com o passar dos anos dizia no seu âmago que a velhice chegou pra ficar. Agora passava os dias como quem nada mais esperava da vida, a não ser a perda dos amigos de sua geração. As noticias lhe chegavam da morte deles e Zé de Graça sentia-se triste e moribundo. Em seus estudos e experiências sentia-se impotente diante da velhice. Afinal era um ser humano como outro qualquer. As melhores coisas da velhice que são a experiência e a sabedoria que já lhe foi dado muito cedo, ainda jovem já se comportava como um ancião, ponderado e sempre resignado diante dos desafios e das mazelas que a vida lhe impusera. Passou a caminhar lentamente, a tomar sol, se dirigia a praça com um pijama manchado de café, gostava de conversar com o alfaiate Antônio de Benedito e também com Seu Maroto e seu Janjão este sempre à sombra ali ao lado da prefeitura vivia sua velhice em paz num íntimo regalo a bordo de uma cadeira conhecida como preguiçosa. A paz e a tranquilidade de Frei Paulo lhe permitia uma velhice tranquila . Mas sua mente fervilhava porque tinha muita coisa para ensinar mas não sabia como. Quem pararia para lhe ouvir além dos poucos e velhos amigos. Ademais, muitas de suas experiências teve que levar para o túmulo pois tinha muito medo de passar por mentiroso, isso para ele era uma questão de honra. Um dia em seu quarto, procurou lembrar de uma frase de Orcar Wilde, mas a memória o traia. Pegou então um caderno embaixo do colchão onde anotava frases que gostava e folheando encontrou:” Não quero adultos nem chatos./Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;/e velhos, para que nunca tenham pressa.” Por isso nas conversas com os amigos sempre omitiu fatos que lhe pareceriam absurdos. Voltava para casa e se dedicava a invertar coisas, coisas as vezes banais para quem possuía uma mente tão ilustrada. Assim o velho cata-vento foi adaptado para uma engrenagem que permitia pilar café em dois pilõezinhos. Ficava sorrindo enquanto o vento realizava a terefa, degustava o café enquanto olhava fixo para o nada. Isso o mantinha vivo e a cada descoberta era como se o gosto da infância voltasse a sua boca. “se envelhece conforme se vive”

quinta-feira, 21 de julho de 2016

O Gênio Zé de Graça ( Cap. 12 )



Acordou disposto e partiu para um passeio lá pra bandas do açude. Passou em frente a Pharmacia e cumprimentou Zé Caxeiro. Este preocupado lhe indagou: E aí seu Zé melhorou da tosse? Balançou a cabeça e perguntou: de que é feito aquele xarope? Zé Caxeiro sorriu e disse: é uma fórmula muito antiga e eficaz para arrancar qualquer catarro do peito e melhorar a saúde. É famoso esse xarope no Brasil inteiro. Zé de Graça rindo completou: em todo o universo. Zé Caxeiro desconversou e voltou a seus afazeres. Desceu a ladeira e chegou ao Tanque dos Cavalos, sentou-se numa baraúna caída para dentro de suas aguas barrentas e entre o reverberar das crianças em brincadeiras sem fim começou a refletir mais uma vez sobre o destino da raça humana, que estaria fadada a destruição. Isso ele pode constatar in loco em sua última viagem na máquina do tempo. Também alguns textos que não conseguia traduzir,deixava incerto a data exata de todos esses eventos desastrosos que aguardaria a humanidade. Olhou a paisagem demoradamente apreciando os montes e os campos verdejantes, a Serra da Miaba a sua frente era de cor azulada e atrás, num giro estava a Serra Preta, Serra das Campinas e Serra Redonda, o seu olhar sereno se espraiava pelo relevo e imaginava a visão da terra devastada, um imenso deserto sem vida e sem esperança. Pensou no desespero das pessoas e das filas para entrar nas naves que as levariam inutilmente a Júpiter ou a Saturno com seus anéis de cores incríveis. E quando a energia findasse. O que seria de Seu Nezinho , do compadre Justiniano. Do Seu Gumercindo, do amigo João Dias? O que seria de todos os seus patrícios? Ele já sabia o que estava por vir: o sol o astro rei e mantenedor da vida, entraria em colapso e logo explodiria e passaria de uma estrela do tipo anã amarela para se tornar uma gigante vermelha. O calor certamente destruiria todo o nosso sistema solar. E também quem resistiria a radiação que emanaria dessas explosões? Sabendo do inevitável, desistiu de ir ao açude e pedalou vigorosamente de volta a sua casa e foi direto a seu quintal e com base em previsões dos Maias, foi ao ano de 2012 tirar sua dúvida. A cabine da máquina do tempo foi construída com a lataria da velha Kombi dirigida por Milton, abandonada em uma garagem em frente ao monturo. Era conhecida como A Assistência .A engenhoca conservava a direção e até a sirene. Mas ao invés de motor, possuía um complexo sistema feito a partir de restos de rádios e uma espécie de reator construído a partir de sucatas do velho fomento . Na parte traseira um tanque de nitrogênio. Ao acionar a alavanca subiu novamente de forma vertiginosa e em segundos pousou por trás da malhada de Quebra Santo próximo ao tanque de Seu Silva. Então colocou um chapéu côco na cabeça para disfarçar e deu uma volta na moderna cidade de Frei Paulo do ano de 2012. Ficou admirado e ao passar no Bêco da Santa viu que sua casa não mais existia estava tudo diferente, admirou-se com os carros nas ruas e foi ao velho coreto. Onde teria ido todos os seus contemporâneos? Poucos ele reconheceu. Viu Zé Correia bem velhinho em sua bodega com seus cabelos brancos, há pouco havia passado por ele com seus cabelos pretos e brilhantes. A Pharmácia não existia mais, viu desolado. Viu o Coreto a igreja e que muita coisa havia mudado enfim. Mas a vida seguia seu curso. Sem ser reconhecido por ninguém, entrou na máquina do tempo e ajustou para 1972 e voltou ao seu quintal sossegado e feliz porque as previsões do fim do mundo difundida pelos Maias não se concretizaram.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

O Gênio Zé de Graça ( Cap. 11 )


Era a língua dos povos sumérios usada nos pergaminhos encontrados por Totonho Molungu na Serra das Campinas, não se sabe ao certo como foi parar alí. A Suméria teria sido colonizada por volta de 5500 e 4000 a.C. por um povo não-semita que pode ou não ter falado o idioma sumério (utilizando como evidência para isto os nomes das cidades, rios e ocupações básicas). Estes povos pré-históricos sobre o qual se conjecturou são chamados atualmente de "proto-eufrateanos" ou "ubaidas",[ e, segundo algumas teorias, teriam evoluído a partir da cultura Samarra, do norte da Mesopotâmia (Assíria). Os ubaidas foram a primeira força civilizatória na Suméria, drenando os pântanos para praticar a agricultura, desenvolvendo o comércio e estabelecendo indústrias, entre elas a tecelagem, o trabalho do couro e dos metais, a alvenaria e a cerâmica. Então Zé dedicou-se a estudar a língua dessa civilização antiga e ficou surpreso ao saber que esses povos teriam grande influencia de seres de outros planetas, registrado nos desenhos desse vasto material. Ao dominar o idioma que estudou por mais de uma década descobriu que o projeto da maquina, tratava-se de uma engenhoca capaz de viajar no tempo. Então no seu quintal na década de 70 começou a construir sob segredo, essa máquina do tempo. Era algo impensável, impossível para sua época, mas seguindo o projeto foi aos poucos adquirindo equipamentos adaptando outros e eis que numa ensolarada tarde do ano de 1972, estava com sua máquina do tempo pronta para viajar.
Então ele entrou na cápsula, ajustou o painel para o ano de 5803 e acionou a alavanca. Subiu na vertical numa velocidade absurda , perdeu os sentidos e alguns segundos depois pousou sobre um cenário desolador.Ao voltar a si, percebeu que não havia absolutamente nada à sua volta , somente uma área escura queimada e nem ceu havia. Da janela contemplou um cenário medonho, afolgueado. Não se arriscou a abrir a pequena escotilha e se o fizesse, morreria em segundos, já que a temperatura beirava 600, graus. Pouco depois caiu uma chuva. Era uma chuva ácida e corrosiva. Se demorasse mais um segundo a máquina do tempo seria derretida. Diante daquele ambiente tão agressivo imediatamente ajustou sua máquina desta vez para o ano de 2660. Em segundos sentiu o pouso em um campo cercado de árvores . Do seu lado viu uma cidade e a temperatura era amena 27 graus. Desceu e caminhou curioso a procura de vidas, encantado com a arquitetura , os prédios eram muito bonitos e funcionais. Mas não viu um pé de gente. Tudo deserto notou o ar pesado, sem humidade alguma e começou a passar mal. De repente tomou um susto ao chegar à beira de imensos abismos e não demorou para concluir que se tratava do oceano atlântico. Seco , sem uma gota de água. Concluiu que o aquecimento global, havia secado toda a água do planeta e acabado com a vida humana na terra. Meio triste vagou entre aquela estranha vegetação que parecia artificial. Voltou a sua máquina a ajustou para o Ano de 1972 retornando ao seu quintal. Desse dia em diante passou a assumir uma consciência ambiental e a pregar a preservação da natureza para todos a sua volta. A esposa indagou: Por onde você andou Zé, que nem veio almoçar? Voltou ao oitizeiro no dia seguinte e pensou longamente sobre o futuro da raça humana, que caminha para a auto-destruição. No primeiro pouso observou com muita tristeza que nosso planeta, a amada Terra estava com a mesma atmosfera de marte.

terça-feira, 19 de julho de 2016

O Gênio Zé de Graça ( Cap.10 )


O hábito de refletir e pensar nas tardes, se repetiam com grande frequência. Sempre naquele mesmo local à sombra do oitizeiro, na Avenida José da Cunha o vento suave as vezes o levava a intermitentes cochilos e pequenas viagens no mundo mágico que se tornara sua mente, povoada de tantos sonhos. Pensar em construir algo que até o momento não sabia exatamente o que era, se uma nave espacial , uma máquina do tempo ou talvez a máquina do juízo final. A noite caminhava para a igreja e rezava pedindo inspiração e sabedoria aos santos. Cada dia mergulhava mais e mais em cálculos e distancias entre planetas, e anotava tudo em sua planilha. Divagava sobre um grande cinturão de asteroides e sobre Júpiter que segundo ele, seria o grande comandante de nosso sistema solar. Fonte de ondas de rádio e hidrogênio. Toda aquela suntuosidade poderia desaparecer. Tudo se transforma no universo e as luzes vistas no céu da noite de hoje são de estrelas que já se desintegraram há milhões de anos. Saiu da missa com um versículo na cabeça Mateus 24:15 “Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, atenda” . Num desses cochilos dele se aproximou Astrid Astra Celeste, a mais nobre sacerdotisa do Alto Conselho de Júpiter, enfrentava um dilema: a Singularidade, de dimensão astronômica quase infinita, se aproximava – fenômeno que traria o fim àquela raça guerreira, exploradora e persistente, espalhada pelo sistema solar. E lhe mostrou o Planeta X. Um orbe descomunal centenas de vezes maior do que a massa terrestre, e ele viu esse gigante frio e mórbido se aproximando de nossa pequena e tão linda Terra. Ao passar, inverteu a rotação da Terra e tudo foi sacudido. Lembrou-se de Antônio Conselheiro, o beato que pregava a palavra de Cristo e dizia clamando entre espingardas e facões: “O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão.” Teria razão o beato. Na verdade , observou que não houve um choque entre os astros mas como passou muito perto o campo magnético provocou terríveis cataclismos em nosso planeta e assistiu ao apocalipse. Maremotos, terremotos o ceu enrolou feito pergaminho conforme foi dito no apocalipse de São João. Chamado pelos sumérios de Nibiru, mas também conhecido atualmente como Planeta X, esse último corpo celeste teria o tamanho de Júpiter e passaria pelo Sistema Solar a cada 3,6 mil anos, causando estragos pelo caminho, inclusive com danos à Terra. Segundo a lenda, o atual ciclo orbital de Nibiru estaria por se encerrar, com nova passagem por essas bandas prevista para ocorrer por volta de dezembro de 2012, data que coincidiria com o "fim do mundo" previsto pelos maias.
Acordou assustado e naquele dia 23 de setembro de 1975 foi para a missa a noite ouviu o sermão do padre João, e ao retornar para casa presenciou no ceu um fenômeno até hoje sem explicação. Na direção de Carira, dois imensos corpos celestes apareceram causando muito medo a todos os freipaulistanos que viram o fenômeno; eram duas imensas luas juntas no espaço, mas que algum tempo depois se dissiparam, esfumaçando em meio ao brilho da noite. Com a mente meio confusa mirou os astros e pensou : Seria Nibiru? Mas logo dois? Foi para casa e muito confuso dividia-se entre seus experimentos científicos e a religião. Um dilema.

domingo, 17 de julho de 2016

O Gênio Zé de Graça (Cap. 9)



Sempre pairou sobre os freipaulistanos a desconfiança de que havia um seleto grupo de homens na cidade, detentores de uma sabedoria superior e o motivo para isso seria o conhecimento de coisas que não eram desse tempo mas do futuro. Uma senhora moradora da Av. José da Cunha um dia contou que há muito tempo quando o meio de transporte na cidade era apenas jumentos e cavalos e que a luzes eram provenientes de lampiões que um homem bastante respeitado na cidade conhecido como Totonho Molungu em uma de suas andanças na Serra das Campinas. Dirigia o seu V 8, por sinal o primeiro automóvel a circular pela região. Esse automóvel chamava a atenção de todos principalmente à noite com seus faróis acesos . Coisa que até criava pânico nos matutos. Com vontade de atender necessidades fisiológicas adentrou o mato e ao procurar algo no chão para se limpar achou algo inusitado: Uma pequena arca a qual levou para sua propriedade rural. No seu interior encontrou pergaminhos com escritos em uma língua que não sabia como traduzir.Algumas décadas depois, numa quarta-feira, em 9 de janeiro de 1962, convocou alguns amigos para revelar o estranho achado. O grupo se reunia secretamente na casa de um deles e não conseguiam decifrar os papiros . Foi ai que um deles teve a ideia de chamar Zé de Graça para analisar o achado. Este disse tratar-se de hieróglifos e que com um pouco de paciência conseguiria decifrar o que estava escrito ali. Mas Totonho Mulungu acreditava que aquele estranho material poderia ser uma espécie de mapa do tesouro e que certamente a verdade vindo à tona estariam todos muito ricos. Isso despertou a cobiça e o grupo não permitiu que Zé levasse os papiros para sua casa. Então passaram a se reunir e ele passou a decifrar os escritos, surpreso porque aqueles ensinamentos não eram oriundos do passado, mas sim do futuro. Entre outros importantes ensinamentos estava o projeto de construção de uma nave capaz de ir de um firmamento a outro da terra em segundos à velocidade da luz. Contudo trazia outros ensinamentos os quais com muito esforço foi traduzido e entregue a cada membro do grupo de acordo com suas aptidões. Totonho Molungú, porém mostrou-se arredio e deixou de frequentar as reuniões, dizendo não ter tempo para besteira,mas outros como Zé Caxeiro, Josias Tabareu, Bastos, João Teles entre outros, todos , segundo contam obtiveram grande sabedoria advinda desses escritos,era uma pequena sociedade secreta. Zé de Graça despontou na ciência, Zé Caxeiro na alquimia, Josias Tabareu no comércio, Bastos na arte de ler e escrever e oratória e João Teles na política.Outros deslancharam na agropecuária. Por fim esses pergaminhos foram rateados entre eles e a parte do projeto da máquina voadora ficou com Zé de Graça guardado a sete chaves. Os anos avançaram e os privilegiados pela sabedoria progrediram nos seus conhecimentos. Zé Caxeiro na alquimia, uma prática ancestral, a antiga química exercitada na Era Medieval. Ela une em seu amplo espectro cognitivo noções de química, física, astrologia, arte, metalurgia, medicina, misticismo e religião. A crença mais difundida é a de que os alquimistas buscam encontrar na Pedra Filosofal, mítica substância, o poder de transformar tudo em ouro e, mais ainda, de proporcionar a quem a encontrar, a vida eterna e a cura de todos os males. Bastos tonou-se notável nos seus escritos e oratória brilhante, Josias Tabareu montou sua empresa de ônibus e foi vitorioso em outros empreendimentos e João Teles despontou como a maior liderança política de Frei Paulo sendo eleito prefeito por diversos mandatos e também foi eleito deputado estadual. Mas Zé de Graça foi quem mais lucrou com os ensinamentos desenvolvendo uma inteligência superior e possibilitou o inicio do seu sonho de conquistar o espaço. Então no mais absoluto sigilo começou a rabiscar os primeiros esboços semelhantes aos de Da Vince. Algo que também se assemelhava aos primeiros veículos mais pesados que o ar do início do século passado. Mas como construir uma nave espacial em pleno sertão sergipano numa época de muita turbulência política , com o pais às vésperas de uma revolução. Em uma tarde sob um pé de oiti, Zé sentou-se num banco em frente a casa do Sr Albede e passou a refletir sobre o conhecimento adquirido na arca, como ele é precioso, como encerra joias, e como pode ser também perigoso quando utilizado de forma inadequada.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

O Gênio Zé de Graça ( Cap. 8 )


Nhô Capitinga ao ver o disco voador se aproximando na estrada da Serra Redonda, próximo ao sítio de Seu Diógenes, ficou com muito medo e se escondeu sob pés de araças e gabirobas, ficando perfeitamente camuflado, somente seus olhos arregalados e sua língua afiada ficaram de fora. Zé sorriu ao ser deixado. Lembrou que na noite anterior entrou em um cômodo da nave e viu uma das criaturas usar uma pepeta e tirar uma gota do xarope de Zé Caxeiro e pingar sobre uma engenhoca que imediatamente passou a produzir milhares de litros do produto, já saiam prontos em garrafões feitos de um vidro de nitrogênio que se alto gelava. Ao descer os Ets entregaram o frasco praticamente cheio. Zé saiu andando de volta para cidade e não comentou nada com ninguém do que havia acontecido. Já era quase boca da noite quando Nhô Capitinga saiu da toca e nem seguiu para sua malhada , tomou o caminho de volta para a cidade levando nas costas um saco vazio e pensou com seus borbotões: “ Esperem só quando todos souberem dessa novidade”. Neste instante, um feixe de luz azulada foi sobre ele vindo do céu e ele desapareceu. Fora capturado pelos alienígenas e questionado sobre suas intenções de espalhar o acontecido. Ele então disse que seu silêncio tem preço.
Estava para vender sua malhada por conta de uma dívida de 20 mil cruzeiros contraída com Sinhô de Cajuza, não pagava mais os juros e a dívida se multiplicava, então fez a indecente proposta. O et pediu a ele uma moeda e ele tirou do bolso uma moeda de metal de 2 cruzeiros datada de 1950, daquelas que tem um mapa do Brasil na coroa. Os ets a colocaram em uma máquina e imediatamente Nhô ficou alucinado com o tilintar de milhares de moedas iguais que desciam por uma espécie de bica. Pediu então que lhe arrumassem uma máquina dessas o que foi prontamente negado. Encheu o saco de moedas e ao ser deixado na estrada não conseguia carregar de tão pesado que ficou o saco. Então cavou um buraco e enterrou em dois lugares sua botija. Pagou a dívida dias depois, entretanto sobrou ainda muito dinheiro. Mas a coceira na língua , em um dia de bebedeira fez com que ele revelasse o segredo. Contam os mais antigos que depois de espalha na cidade da existência dos Ets sua vida deu pra trás, perdeu as roças e passou a ficar maltrapilho e beberrão. Ninguém acreditava nele e ganhou a fama de mentiroso. Passava dias e noites escavando tentando encontrar parte do dinheiro que não lembrou mais onde escondeu.
Quando alguém se aproximava de Zé de Graça e perguntava se isso de fato aconteceu ele respondia “qui” sempre com um sarcástico sorriso no canto da boca.. Os anos se passaram e ele cheio de ideias novas e projetos mirabolantes, sempre com sua bicicleta ia às tarde para os lados da serra, muitos dizem que mantinha contato frequentemente com os alienígenas, o que ele morreu negando. Em sua oficina começou um novo empreendimento, desta vez da comunicação. A partir de peças de rádios montou uma central de transmissões radiofônica que chegava a todos os lares. Ergueu uma antena no bêco da Santa e colocou no ar a Rádio Zé de Graça onde todos os dias falava, dava notícias do que lia nos jornais e tocava músicas. A rádio foi um sucesso por muitos anos contam os mais antigos moradores de Frei Paulo. Instalou um grande cata-vento e passou a utilizar energia aeólica em sua residência, apesar de trabalhar prestando serviços a Chesf. No inicio dos anos 60 já falava em energia limpa e considerava um absurdo a queima de combustível derivado de petróleo, que naquela época era bem barato. Passou a ter uma visão clara de sua missão na terra. E o que ele exatamente era: nada mais que cientista, matemático, engenheiro, anatomista, arquiteto, botânico, poeta e músico estas eram as suas singelas contribuições para o desenvolvimento humano.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

O Gênio Zé de Graça ( Cap.7)


A manhã do dia 5 de agosto do ano de 1955 começou com uma garoa, entretanto, o frio naquele dia era de doer nos ossos, as ruas estavam desertas, as pessoas estavam entocadas em suas casas e Zé acordou tossindo muito, tomou um café reforçado com macaxeira e ovos de capoeira mal passados e taciturno seguiu sob um guarda chuvas em direção a Farmácia de Zé Caxeiro. Passou pela Avenida entre as gélidas lufadas de vento e entrou pelo bêco do Talho se esgueirando pelas sobras dos telhados. Foi o primeiro cliente da farmácia e foi saudado com distinção pelo amigo tarimbado na arte da manipulação. Sentou-se num tamborete e pigarreou explicando seu problema de saúde enquanto folheava um jornal. Zé Caxeiro foi para o seu laboratório e em instantes voltou com um frasco e o entregou. Um xarope conhecido como milagroso, ele tomou uma colherada e em instantes disse que já se sentia melhor. Pagou e começou a caminhar. Estava com uma energia fora do comum e andou até a praça da feira e lá chegando tomou um café num bar de um amigo. O tempo começou a melhorar e o sol insistia entre a névoa e ele tomou uma estrada estreita que vai dar na serra. Passou em frente a fazenda do amigo Avelino e acenou para ele que ia saindo num jipee. Seguiu em direção à serra tendo na mão apenas um frasco de xarope embalado numa folha de jornal, quando o inusitado aconteceu. Olhou para cima e viu um disco voador que voava muito baixo com suas luzes azuis a piscar. Ficou tão assustado, que todos os seus membros ficaram paralisados. Num descampado a nave pousou e dela saíram três criaturas alienígenas. Eram muito esquisitos, ele imediatamente começou a rezar, porque pensava tratar-se de demônios. Tinham pele cinza e as mãos eram como garras de caranguejo . O pegaram pelo antebraço e levitaram até a nave. Examinaram ele demoradamente como qualquer médico faria. Em instantes, colocaram um cinto metálico prendendo o passageiro a uma poltrona e a nave começou a se movimentar. Subiu lentamente, circulou a Serra Redonda e depois deu voltas pela cidade enquanto subia; talvez ninguém tivesse visto porque o tempo estava muito nublado. Notou que eles se comunicavam por telepatia. Pegaram o xarope em sua mão e levaram a um mine laboratório dentro da nave. Minutos depois ele olhou pela janela e viu o planeta terra como no atlas. Distinguia os continentes, enquanto contemplava o planeta azul envolto de nuvens. Pouco depois, a terra era um minúsculo ponto do meio na imensidão do espaço sem fim. Estava triste e ao mesmo tempo alegre. Não sabia se essa experiência seria assustadora ou traumática, ou uma experiência agradável e transformadora.
O fenômeno da abdução o deixou meio perdido e sentia-se como que hipnotizado sem noção do tempo, sentia-se travando diálogos e compartilhando experiências com aqueles assustadores homens com patas de caranguejo. Pertenciam certamente a uma civilização de um planeta distante e bastante evoluído, dominavam perfeitamente as ondas gravitacionais e tecnologias herméticas bem mais inteligentes de que nós humanos. Zé ficou calado e observando o interior da nave e os procedimentos dos alienígenas que a todo instante o analisavam. Chegaram a uma nave mãe que era uma verdadeira cidade, imensa com milhares deles trabalhando. Desceu e fez um longo passeio por essa nave descomunal e viu alguns humanos semelhantes a ele vivendo lá. Achou que nunca mais voltaria a sua vida, à sua amada Frei Paulo. Mas os alienígenas depois de algumas horas o trouxeram de volta a terra e por volta das 16 horas a pequena nave de luzes azul pousou no mesmo lugar. Fato testemunhado por Nhô Capitinga que viu com os olhos que um dia a terra comeu, Zé de Graça descendo da nave levitando ao lado dos alienígenas.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

O Gênio Zé de Graça (Cap. 6)


Em seu sonho tão bonito a deusa o tomou pela mão e percorreu infinitas constelações de Órion a Andromeda, de Hércules a Escorpião, e disse a ele com voz doce: existem vários sois vários mundos e muitas possibilidades. Ele mirava a imensidão observando atentamente as estrelas os planetas distantes milhões de anos luz de nosso minúsculo sistema solar. Chegou a conclusão que era muito pequeno e disse à deusa: “Sou um grão de areia” . Urânia sorriu e não falava nada, transmitia o pensamento. Sem palavras. Neste momento, ele se assustou porque também lia o pensamento da deusa. “Você não é algo tão grande quanto um grão de areia” Então sentaram-se na calda de cometa e ela começou a passar para ele noções sobre o micro universo. Tão vasto e infinito como esse . Depois começaram a ouvir música, a sinfonia do universo que era parecida com o silêncio . Viajaram muito e ele deslumbrado com a diversidade de cores dos corpos celestes, obra da perfeição divina. Ele sorria olhando para ela que era certamente apaixonante, além de muito bonita e lembrou da descrição de Camille Flammarion sobre essa musa. “Era a idéia Angélica que paira por sobre os erros terrestres; não possuía nem a carne perturbadora, nem o coração cujas palpitações se transmitem à distância, nem o tépido calor da vida humana; mas existia, entretanto, em uma espécie de mundo ideal, superior e sempre puro, e todavia era bastante humana, pelo nome, e pela forma, para produzir na alma de uma adolescente impressão viva e profunda, para fazer nascer nessa alma um sentimento indefinido, indefinível, de admiração e quase de amor.”
Mas porque logo ele, de um sofrido e esquecido torrão, pobre moço do sertão, abandonado e dado à fome e a dor, seria brindado com tamanha honra? Ela sorriu a disse a ele que assim como Mozart viveu na terra , hoje evoluído habita mundos superiores onde não existe as mazelas e provações de seu planeta. Da mesma forma também você Zé de Graça tem uma missão e em breve será um instrumento desse movimento perfeito que é o universo. A casa do Senhor tem diversas moradas lembra? Intuiu ela em sua mente perplexa.
Acordou neste dia calado e foi consertar uma máquina, um antigo gerador em uma propriedade rural para os lados da Onça, e a ninguém comentou sobre seu sonho. Na hora de receber disse ao fazendeiro : “Sábado espero o Sr. lá em casa.” O fazendeiro se benzeu porque era exatamente isso que pretendia fazer. Naqueles dias que a política estava no auge, ouvia-se pelo rádios rumores de instabilidade no país. Neste exato dia, o presidente cometeu suicídio, era ano de 1954, com um tiro no coração, em seu quarto, no Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, então capital federal. Getúlio Vargas foi considerado o mais importante presidente da história do Brasil. Sua influência se estende até hoje.
Neste mesmo dia começaram os rumores em Frei Paulo, da aparição de discos voadores, e os relatos de populares diziam que um dos objetos de forma esférica pousava todos os dias por volta das 15 horas diante de uma cancela de um pequeno sítio bem próximo da Serra Redonda.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

O Gênio Zé de Graça (Cap. 5)


Zé de Graça sempre foi um homem podre, probo e temente a Deus , era a discrição em pessoa, cruzava as ruas da cidade sem olhar para os lados com elegância e desenvoltura, havia desenvolvido e adaptado à sua bicicleta, uma barra circular Monark modelo 1973 um sistema de marchas inédito, com o qual pedalava sem muito esforço. Casou –se com Joaninha que não podia-se dizer que era uma moça de família. O moça sofria discriminação por sua conduta errante numa época de muito preconceito e de rígidas regras morais . Em Frei Paulo o machismo era reinante. Começaram a namorar e ele logo a esposou. Viveram juntos muitos anos até a sua morte em consequência de ascite, aquela doença do fígado que junta água na barriga. Ele transformou a vida daquela jovem, da água para o vinho, então ela mudou e passou a ser excelente esposa e por sinal, religiosa frequentadora assídua das missas do padre João Lima. Ela conheceu Zé quando este tocava na União Lira Paulistana. Aliás, esquecemos de dizer que era excelente músico, saxofonista de mão cheia. Costumava acordar os vizinhos do Bêco da Santa com magistrais execuções de música clássicas. Tocava os dobrados da banda mas, um dia se apaixonou pelas peças geniais de Wolfgang Amadeus Mozart de suas sinfonias, concertos e óperas mais conhecidos, além de seu Requiem. Passou a escrever suas partituras e por horas dedicava-se ao sax. Tocava também de improviso, jazz e blues. Mas nunca se arvorou a compor músicas. Ouvia também numa velha radiola de cerejeira que mais parecia um móvel na sala, clássicos como 1) Johann Sebastian Bach; 2) Ludwig Van Beethoven; 3) Franz Joseph Haydn; 4) Georg Friedrich Händel; 5) Wolfgang "Amadeus" Mozart; 6) Franz Peter Schubert; 7) Claude Debussy; 8) Felix Mendelssohn-Bartholdy; 9) Richard Wagner; 10) Niccolò Paganini; 11) Antonio Lucio Vivaldi; 12) Heitor Villa-Lobos; 13) Johannes Brahms; 14) Luigi Boccherini; 15) Fernando Sor; 16) Franz Liszt; 17) Jean Sibelius; 18) Jean-Philippe Rameau; 19) Piotr Ilitch Tchaikovsky; 20) Gioacchino Rossini. Dividia seu tempo entre tarefas simples na lavoura, estudos de astrologia e astronomia e a música, outra grande paixão.
Zé de Graça também ajudou seu irmão Nezinho Fotógrafo, montou o laboratório e consertava as máquinas fotográficas quando dava qualquer defeito. Montava e desmontava qualquer coisa com muita facilidade. Isso foi um dom que já nasceu com ele. Também ajudava o irmão quando este ia cobrir qualquer evento importante na cidade. Nezinho se estabeleceu na casa que depois passou a morar Bastião, o Barbeiro, na esquina da praça Capitão João Tavares. Era casado com Jovita e ele nos domingos ia com a esposa almoçar com o irmão e cunhada na casa de Nezinho Fotógrafo. Um dia veio parar nas suas mãos um livro espírita que o deixou curioso e fez ele se interessar ainda mais pelas viagens espaciais. O livro chamava-se Urânia a deusa do universo. Urânia era a musa da Astronomia e da Astrologia. Era filha de Zeus e Mnemósine, ou de Urano, gerada sem mãe.
Urânia era mãe de Lino, cujo pai era Apolo. É a mais nova de todas as musas. Leu por semanas esse compêndio e um dia adormecer e teve um sonho no qual se transportou para outras galáxias e enquanto viajava(no sonho) à velocidade da luz, de repente parou diante dessa linda jovem que disse: Muito prazer Zé , meu nome é Urânia. Esta musa é comumente representada vestida de azul, cor que representa a abóbada celeste, tendo em torno de si um globo terrestre, no qual se medem posições com um compasso, numa de suas mãos.
Também possui uma coroa ou diadema formado por um grupo de estrelas; as estrelas também podem ornar todo o seu vestido. Aos seus pés encontram-se espalhados alguns instrumentos matemáticos, razão pela qual, como tacitamente consideram alguns, seria ainda a musa da Matemática e de todas as Ciências exatas.

O Gênio Zé de Graça ( Cap. 4)


Era uma manhã de segunda- feira em um calmo outubro do ano de 1973 e Zé pulou da cama com os olhos esbrugalhados antes do dia estar claro, um sonho muito estranho, ou melhor um pesadelo o deixou intrigado. Pois havia presenciado o próprio apocalipse na ruas de Frei Paulo, aquilo era tão real que se abraçou a Joaninha e começou a narrar o que havia sonhado. Na noite anterior, atendendo a um convite do amigo Valdomiro foi ao cinema e subiu à sala de projeção, após prosear com o amigo começou então apreciar um filme histórico sobre a Segunda Guerra Mundial.
Pouco antes Valdomiro um gabaritado técnico em exibições cinematográficas aproveitava para tirar dúvidas sobre ótica e luz e Zé explicava tudo, disse naquela ocasião que no futuro os projetores seriam digitais e as luzes de led. Mesmo porque Zé de Graça era o único que entendia o mecanismo dos equipamentos do cinema, o maquinário era um dos mais modernos que existiam no país. Valdomiro muito realista maneou a cabeça enquanto ajeitava os óculos. Zé respirou aquele cheiro peculiar da sala de projeção e por um buraco quadrado na parede começou a assistir a película. Percebeu que o cinema estava lotado naquele domingo.
A história narrava quando os japoneses quebraram o pacto e realizaram o famoso ataque de Pearl Harbor. Ele havia pedido ao amigo e companheiro de papos sobre projeções que o avisasse quando fosse passar filmes sobre aviões.
O ataque a Pearl Harbor foi uma operação aeronaval que destruiu a base norte-americana de Pearl Harbor, efetuado pela Marinha Imperial Japonesa na manhã de 7 de Dezembro de 1941.Essa operação em Pearl Harbor, na ilha de Oahu, Havaí, foi executado de surpresa contra a frota do Pacífico da Marinha dos Estados Unidos da América e as suas forças de defesa, o corpo aéreo do exército americano e a força aérea da Marinha.O ataque danificou ou destruiu 21 navios e 347 aviões, matando cerca de 2403 pessoas e ferindo outras 1178. Contudo, os três porta-aviões da frota do Pacífico não se encontravam no porto, pelo que não foram danificados, tal como os depósitos de combustível e outras instalações.
Ele sonhou que a cidade estava sendo alvo de um ataque aéreo sem precedentes, contou que tudo começou com a polícia de Frei Paulo perseguindo uns meliantes pelas ruas, havia tiros e gritos. A violência foi se intensificando e de repente estavam todos no meio de uma guerra. Um bombardeio devastador , ele conta que se abrigou com alguns amigos na bodega do Sr Elpídio e dali via pelas ruas voando baixo aviões sem asas que metralhava tudo e se chocava contra as casas. Do alto bombardeiros lançavam bombas devastadoras sobre a cidade. O fogo cerrado durou horas, mas haviam intervalos. Então montou na bicicleta e fugiu. Tudo estava destruído, a Farmácia de Zé Caxeiro, o coreto a prefeitura, tudo. Não sabia onde ir, e até a igreja foi bombardeada pois muitos fugiram para lá porque achavam que alí estariam protegidos. Já não havia mais teto só o altar e os bancos onde choravam e clamavam pela misericórdia de Deus. Entre os escombros da igreja, contou ele , que uma senhora gorda gritou aos alienígenas. Aqui é a casa de Deus!!!! Neste momento o ataque cessou e foi quando ele despertou de seu pesadelo. Dona Joaninha se benzeu, rezou um credo e tranquilizou o marido.

O Gênio Zé de Graça (Cap. 3)


Zé de Graça era um homem polido um verdadeiro gentleman da sociedade freipaulistana e conseguia a proeza de ser paciente com muitos cuja ignorância transbordava. Um traço marcante de sua personalidade era o tom de voz sempre ponderado, baixo e humilde. Era praticamente impossível perder as estribeiras, cultivava a paciência com maestria e talvez a religiosidade o ajudasse a ser a pessoa amena que era. Carinhoso e atencioso com a esposa que se chamava Joaninha , era uma admiradora do seu modo de viver, ela estava sempre pronta a ajuda-lo em tudo e deixava transparecer a admiração que nutria pelo marido, apesar dos seus hábitos nada convencionais. Nunca viram ele zangado ou reclamando da sorte e esse temperamento sempre ameno poderia ter levado ele a viver mil anos sem envelhecer.
De fato estava velho mas trazia no semblante um olhar que brilhava e o entusiasmo ocupava sua alma graças a mente efervescente sempre ocupada por sonhos insondáveis, a sede permanente pelo desconhecido e pelas descobertas. Alguns poucos se atreviam a fazer comentários jocosos quando a fama de cientista se propagou, mas ele jamais revidou, esse gentleman também jamais foi visto em festa ou bares bebericando como a maioria dos mortais. Um leve sorriso já era uma boa respostas para algumas indiretas dos ignorantes e pobres de espírito que o cercavam e olhe que não eram poucos.
De fato alguém tão misterioso chamaria atenção de muitos por isso garimpava as amizades com uma sabedoria milenar e convivia em harmonia com todos, imprimia respeito e atenção, sua voz franciscana desarmava qualquer espírito de discórdia. Por isso não dispensava dedos de prosa com amigos entre eles o político e fazendeiro João Teles da Costa , prefeito por varias vezes a quem sempre admirou por ser um homem de palavra e tão simples quanto ele. Para bem da verdade sempre desprezou a arrogância mantendo prudente distância dos estúpidos. E conforme já dissemos, jamais foi ávaro e nunca cobiçou a riqueza, amava a simplicidade e o previsível na sua tímida e comedida vida social. Tudo que fazia era matematicamente planejado, falava o mínimo possível. Mas às vezes em poucas palavras desarmava as armadilhas dos ignorantes que tentavam confundir seus planos.
Em casa, nas tardes distantes sob o aconchego pousava demoradamente o olhar sobre velhos cartões postais e viajava por países longínquos, outras vezes por horas e horas viajava a cada coordenada folheando vagamente o mapa mundi em um velho atlas , livro de cabeceira no qual, lia e relia cada número cada palavra , deglutia cada informação acerca de distancia latitude longitude de todo o planeta terra. Em letras tão minúsculas que o fazia lacrimejar. (Daí o costumeiro óculos escuros) Sobre a cabeceira da cama, em sua alcova colou uma foto dos planetas do nosso sistema solar, recortado da revista Conhecer. Dormia mirando a imensidão da via láctea. Habitava um mundo totalmente diferente e nos seus sonhos percorria o universo com sua tão sonhada engenhoca espacial.

O Gênio Zé de Graça ( Cap. 2 )


Zé de Graça jamais foi um homem de pouca leitura, mas também possuía a humildade como uma das suas principais armas, amava o anonimato e ainda jovem a sua paixão pela ciência era evidente. Suas atividades laborais desde a juventude se dividia entre sua oficina eletrônica e a roça com o plantio de milho, feijão e mandioca para subsistência nunca para o lucro de sua produção agrícola que mesmo em tempos remotos já buscava a sustentabilidade que tanto se fala nos dias atuais . Promovia um aproveitamento total de suas plantações e após a colheita um motor barulhento tratava de triturar o que restava da colheita para devolver à terra como um tributo, mantendo sempre o solo fértil e organicamente adubado. Passava horas na roça pastorando suas espigas, muitas vezes lembrava um espantalho em pé à sobra de uma quixabeira, lendo obras de Julio Verne, foi o escritor francês criador da ficção científica que o inspirou a criar inventos e a desenvolver o gosto pela mecânica e pela eletrônica. Nas tardes trancava-se em sua oficina para atender a vasta clientela donos de velhos rádios transistores. Alguns pipocavam, esfumaçavam e eram levados a Zé de Moura e este decretava sua inutilidade. Na oficina de Zé de Graça voltavam à vida quase que por magia, sua habilidade ímpar ressuscitava até mesmo velas queimadas dos velhos rádios, era outra fonte de renda talvez a principal.
Mas dinheiro para ele é o que menos importava, não fazia questão de cobrar pelos serviços, as vezes dizia ao cliente dê quanto achar que vale. Mas também tinha épocas que os velhos aparelhos ficavam por meses sobre as prateleiras empoeirados sem que ele demonstrasse interesse por eles. Apaixonou-se pelas obras de Verne e principalmente por histórias futuristas e muito reais, os livros de Verne tornaram-se populares em todo o mundo. O mais famoso, considerado sua obra-prima, é Vinte mil léguas submarinas, que conta a história do capitão Nemo e seu submarino, Nautilus. Júlio Verne escreveu essa história em 1873, quando não havia tecnologia para construir um submarino! O primeiro veículo desse tipo só foi feito 25 anos após a publicação do texto.
Quando Zé de Graça resolveu fabricar o seu avião não estava em nada imitando Santos Dumont, usou meio motor de fusca (apenas dois pistons) para dar arranque a engenhoca que por meses desenhou meticulosamente, era um perfeccionista incorrigível. O modelo fora inspirado nos filmes sobre a segunda grande guerra. O projeto levou cerca de cinco anos para ser concluído e voou sem problema já no primeiro teste. As noções de aerodinâmica eram natas no seu fascinante conjunto de talentos. O uso da gasolina convencional atrapalhava um pouco os voos com falhas até perigosas no motor. Mas um amigo conterrâneo, que por sinal era próspero comerciante em Salvador, o presenteou com um galão de 50 litros de gasolina azul, usada em aeronaves de pequeno porte. Usou a aeronave para voos panorâmicos sobre as paisagens belas dos arredores de Frei Paulo com direito a rasantes nos vales que acompanha as Serras Pretas e Serra das Campinas e claro na Serra Redonda que sempre circulava antes de pousar. Com o passar dos anos tornava-se cada vez mais reflexivo e a noite antes de dormir lia e relia Eclesiastes E dizia, já sonolento, a si mesmo: "Tudo tem seu tempo determinado, tempo de voar e tempo de pousar" obviamente isso não existe no livro sagrado, mas ele pensou, isso ele pensou.
Mas um dia ele desmontou o avião sob o pretexto puro e simples de dar manutenção, nunca mais o remontou , apenas uma asa de alumínio sobrou e ficou no alpendre da casa no Beco da Santa, o restante das peças foram utilizadas em outros inventos ao longo dos anos. Era também sua preferência desenvolver inventos de pouca complexidade. Uma alavanca que baixava e levantava a sela da sua bicicleta e também um grampo que interligava as telhas de sua casa que não permitia que elas se movessem em qualquer direção durante as tempestades de verão.

O GÊNIO ZÉ DE GRAÇA (Cap.1)


Num dia rotineiro , nas frias manhãs de agosto, via-se logo cedo o vai vem frenético dos carros do leite e ele quase transparente com sua tez alva e óculos escuros. Ao contrario de muitos que cultivavam um barrigão com sôfrego costume da carne diária. Preferia nutrir a mente , mesmo que não parecesse, sua missão era muito importante e muitos nem sequer sonhavam ser contemporâneo da genialidade de Zé de Graça. Um Einstein das plagas sertanejas com seu corpo esquálido e ativo sobre sua bicicleta azul, cheia de adaptações as quais muitos ignoravam que aquelas pedaladas serviam para acumular energia em pequenas placas de chumbo que cabiam na palma da mão e cada uma delas teria energia suficiente para iluminar toda Frei Paulo.
Poucos tiveram o privilégio de desvendar seus mistérios; a casa no Bêco da Santa era um laboratório onde traçava planos mirabolantes entre eles a construção de uma máquina voadora capaz de singrar os céus e conquistar o tridimensional absoluto, o espaço sideral. No ano de 1969 um certo dia parou a sua bicicleta diante da residência do exator no Bêco do Cinema e por alguns minutos da calçada mirou um pequeno televisor preto e branco e assistia com um leve sorriso a aventura do homem pisando pela primeira vez na lua. Parecia um momento mágico e ele atentamente observava cada detalhe da transmissão ao vivo quando Neil Alden Armstrong pesadamente se locomovia na crosta lunar.
Dali partiu cada vez mais confiante na viagem dos seus sonhos, rumo ao desconhecido talvez tivesse que ir sozinho sem levar parentes ou animais para experiência, as madrugadas eram devoradas em infinitos cálculos e experiências. Há quem não duvide que nessa empreitada tenha o dedo de extraterrestres. Muitos viram naquele período uma movimentação de naves espaciais que rumavam sempre na direção da Serra Redonda, lado leste e muitas vezes ele era visto naquela direção. Um dia a Chesf sofreu um apagão e a cidade ficou sem luz e contam os mais velhos que bem no comecinhos dos anos 60 ele enterrou bolas de chumbo no chão e passou a fornecer energia para toda cidade. Nessa época seus conhecimentos científicos ainda eram rudimentares, construir um avião para ir à roça era apenas uma necessidade, esquecida depois de ser picado pela febre das aventuras intergaláticas.
Na década de setenta em meio ao bucolismo de uma cidade em plena efevervecência de uma juventude atuante , tornou-se ainda mais recluso e muito raramente era visto na rua. O pequeno dínamo da bicicleta com as adaptações dos acumuladores quânticos e a substituição do chumbo por placas de titânio já havia gerado energia suficiente para a grande viagem. A essa altura os seus conhecimentos científicos já eram dos mais rarefeitos. Passou então a estudar com afinco as ondas gravitacionais e os fenômenos eletromagnéticos. A inteligência cultivada com propriedade única o levou a descobertas chocantes como a dos “grávitons” que fez Zé de Graça repletir sobre as leis mais herméticas do universo.
Um dia sentado entre amigos na porta da bodega de Zé Correia, estava lá compadre Justiniano, Fleory, Avelino, Bastos e Dr Rúbens, Artur Barbosa, Gumercido e outros que não me deixam mentir e em meio a conversa corriqueiras Zé de Graça fora tomado por um transe e passou a discorrer sobre um tema que a maioria ficou perplexa. Estas foram suas palavras:
“Numa galáxia distante, muito tempo atrás, um par de buracos negros, cada um com mais de trinta vezes a massa do nosso Sol, entraram em órbita um em volta do outro. Durante as próximas centenas de milhões de anos, ondas gravitacionais geradas pelo seu movimento os fizeram girar em espiral, devagar a princípio, mas depois ganhando velocidade, chegando cada vez mais perto, até estarem rodopiando mais depressa do que as lâminas de um liquidificador. Acabaram colidindo, já a um terço da velocidade da luz, emitindo uma última rajada de ondas gravitacionais, antes de amainar e recolher-se à vida pacata de um buraco negro comum.”
Faroaldo bradou da porta do seu estabelecimento: “ Seu Zé o Sr. Está bem tenho aqui um remédio bom pra isso, Memorex”
Alheio aos pensamentos da turba montou na bicicleta e meio sem jeito voltou ao seu QG no Bêco da Santa e ao entrar murmurou com a sua esposa; Scott Hughes que perdoe a mediocridade dos homens.
- Ham?