Ir ao Educandário Paroquial Imaculada Conceição pela manhã, fez parte de
minha rotina por 7 anos , não que tenha repetido de série, é que a
escola de forte vocação cristã primava tanto pela qualidade educacional
de seus alunos, que eram necessários 7 anos para conclusão do que
naquela época chamávamos de primário. Entrei no Infantil sob a proteção
integral de D. Raquel, e ali me divertia muito com minha turma fazendo
atividades como desenhos, jograis e participando da “Bandinha do ABC”
comandada pelo músico e professor Pedro de Elpídeo, que nos ensinava a
tocar enquanto nos divertia com sua espirituosidade desconcertante.
Passei pelo pré-primário A e B com as professoras Ceiça e Êdne. E o quê
dizer de Marivone, filha do alfaiate Antônio Benedito? Um doce de
pessoa. E depois do pré-primário B, saiamos alfabetizados e tarimbados
para o primeiro ano. As professoras cada uma demonstrando especial
dedicação com suas turmas. Destaque para D. Iraci. Mas de todas elas,
cabe destacar, em primeiro lugar D. Caçula. Ela era a diretora da escola
e o amor que sempre devotou ao Educandário e seus alunos é algo muito
raro. Uma mestra completa, quem passou pelos seus ensinamentos jamais
esquece de sua incomum dedicação, exigente, dura com as lições queria
realmente ver seus alunos sabendo das matérias. Mas paralelo a isso, um
enorme coração, da mestra zelosa e abnegada, uma espécie de segunda mãe.
Capaz de chorar com os momentos difíceis da vida dos seus alunos.
Tinha D. Caçula a preocupação de ver toda a turma pronta para brilhar
na vida, e por isso não avançava no desenvolvimento das matérias
enquanto todos, sem exceção, não dominassem o assunto. Era comum vê-la
interromper a aula e ficar ao lado do aluno, principalmente os que
sentiam dificuldade de aprendizado. Avaliando e ensinando pacientemente
chegava a irritar a turma. Era comum até mesmo nos momentos de descanso,
vê-la em sua casa revisando assuntos com seus alunos. Atenta a tudo D.
Caçula que era a professora do quarto ano, percorria de sala em sala
para ver com os próprios olhos o andamento da escola. Com inspiração,
discorria sobre sintaxe, semântica e morfologia e depois encerrava a
aula com suas complexas inequações logarítmicas . Daí a confiança dos
pais e do Padre João Lima nessa mestra extraordinária pela sua
multidisciplinaridade. Ela era os olhos do padre João.
O
Educandário Imaculada Conceição, habita ainda hoje o imaginário de quem
teve o privilégio de vive-lo, possuía uma magia que nos transportava a
um mundo imaginário e de sonhos, hoje tantos anos depois lembro de cada
detalhe dessa escola encantadora: O esqueleto que servia para as aulas
de ciência, os mapas emoldurados e a biblioteca repleta de clássicos da
literatura mundial. Não existe nas escolas de hoje. O galpão onde
aconteceram festas memoráveis e palestras era também palco onde o
teatro se apresentava. A quadra, as árvores, a mangueira e uma
centenária jaqueira que nos dava generosamente seus frutos doces como
mel. Ao lado, o belíssimo pomar de Sá Donona, repleto de fruteiras, era
alvo de bem sucedidas investidas. A escola era vida. Ali aprendemos a
respeitar os mais velhos, a ter empatia , essa capacidade tão em falta
nos dias de hoje de nos colocar no lugar de nossos semelhantes.
O
orgulho de vestir seu uniforme estava presente em cada um de nós,
principalmente nas festas cívicas e religiosas onde garbosos
desfilávamos com toda singularidade, sob o olhar admirado de nossos
pais, que embevecidos contemplavam a beleza e a felicidade em nossos
olhos sonhadores. Quando fagueiros, ganhávamos as ruas
impecáveis,enfileirados com nossos trajes de gala. O Educandário era
nossa casa, nossa vida. Nosso mundo. Seria impossível descrever sobre
aquele maravilhoso passado histórico e de tão rara beleza sem que a alma
não se encharque de sentimentos. O que hoje lamentavelmente ameaça
desaparecer, foi uma parte importante de muitas vidas. Como lidar com
isso sem sentir uma vontade incontrolável de embargar a voz e de
realmente chorar? Onde quer que estejam, o Padre João Lima , D. Caçula,
D. Raquel. D. Inês, Dete e Dadá (que cuidavam com muito carinho da
limpeza) e os colegas de saudosa memória como Antônio Carlos de Aldo,
Gilmar de Dezinho, Bento de Diógenes, Teresinha de João da Lua, entre
tantos outros colegas que nos deixaram prematuramente, certamente paira
um sentimento de desolação e de perda.
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