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quinta-feira, 9 de julho de 2015

O EDUCANDÁRIO NOSSA CASA NOSSA VIDA

Ir ao Educandário Paroquial Imaculada Conceição pela manhã, fez parte de minha rotina por 7 anos , não que tenha repetido de série, é que a escola de forte vocação cristã primava tanto pela qualidade educacional de seus alunos, que eram necessários 7 anos para conclusão do que naquela época chamávamos de primário. Entrei no Infantil sob a proteção integral de D. Raquel, e ali me divertia muito com minha turma fazendo atividades como desenhos, jograis e participando da “Bandinha do ABC” comandada pelo músico e professor Pedro de Elpídeo, que nos ensinava a tocar enquanto nos divertia com sua espirituosidade desconcertante. Passei pelo pré-primário A e B com as professoras Ceiça e Êdne. E o quê dizer de Marivone, filha do alfaiate Antônio Benedito? Um doce de pessoa. E depois do pré-primário B, saiamos alfabetizados e tarimbados para o primeiro ano. As professoras cada uma demonstrando especial dedicação com suas turmas. Destaque para D. Iraci. Mas de todas elas, cabe destacar, em primeiro lugar D. Caçula. Ela era a diretora da escola e o amor que sempre devotou ao Educandário e seus alunos é algo muito raro. Uma mestra completa, quem passou pelos seus ensinamentos jamais esquece de sua incomum dedicação, exigente, dura com as lições queria realmente ver seus alunos sabendo das matérias. Mas paralelo a isso, um enorme coração, da mestra zelosa e abnegada, uma espécie de segunda mãe. Capaz de chorar com os momentos difíceis da vida dos seus alunos.
Tinha D. Caçula a preocupação de ver toda a turma pronta para brilhar na vida, e por isso não avançava no desenvolvimento das matérias enquanto todos, sem exceção, não dominassem o assunto. Era comum vê-la interromper a aula e ficar ao lado do aluno, principalmente os que sentiam dificuldade de aprendizado. Avaliando e ensinando pacientemente chegava a irritar a turma. Era comum até mesmo nos momentos de descanso, vê-la em sua casa revisando assuntos com seus alunos. Atenta a tudo D. Caçula que era a professora do quarto ano, percorria de sala em sala para ver com os próprios olhos o andamento da escola. Com inspiração, discorria sobre sintaxe, semântica e morfologia e depois encerrava a aula com suas complexas inequações logarítmicas . Daí a confiança dos pais e do Padre João Lima nessa mestra extraordinária pela sua multidisciplinaridade. Ela era os olhos do padre João.
O Educandário Imaculada Conceição, habita ainda hoje o imaginário de quem teve o privilégio de vive-lo, possuía uma magia que nos transportava a um mundo imaginário e de sonhos, hoje tantos anos depois lembro de cada detalhe dessa escola encantadora: O esqueleto que servia para as aulas de ciência, os mapas emoldurados e a biblioteca repleta de clássicos da literatura mundial. Não existe nas escolas de hoje. O galpão onde aconteceram festas memoráveis e palestras era também palco onde o teatro se apresentava. A quadra, as árvores, a mangueira e uma centenária jaqueira que nos dava generosamente seus frutos doces como mel. Ao lado, o belíssimo pomar de Sá Donona, repleto de fruteiras, era alvo de bem sucedidas investidas. A escola era vida. Ali aprendemos a respeitar os mais velhos, a ter empatia , essa capacidade tão em falta nos dias de hoje de nos colocar no lugar de nossos semelhantes.
O orgulho de vestir seu uniforme estava presente em cada um de nós, principalmente nas festas cívicas e religiosas onde garbosos desfilávamos com toda singularidade, sob o olhar admirado de nossos pais, que embevecidos contemplavam a beleza e a felicidade em nossos olhos sonhadores. Quando fagueiros, ganhávamos as ruas impecáveis,enfileirados com nossos trajes de gala. O Educandário era nossa casa, nossa vida. Nosso mundo. Seria impossível descrever sobre aquele maravilhoso passado histórico e de tão rara beleza sem que a alma não se encharque de sentimentos. O que hoje lamentavelmente ameaça desaparecer, foi uma parte importante de muitas vidas. Como lidar com isso sem sentir uma vontade incontrolável de embargar a voz e de realmente chorar? Onde quer que estejam, o Padre João Lima , D. Caçula, D. Raquel. D. Inês, Dete e Dadá (que cuidavam com muito carinho da limpeza) e os colegas de saudosa memória como Antônio Carlos de Aldo, Gilmar de Dezinho, Bento de Diógenes, Teresinha de João da Lua, entre tantos outros colegas que nos deixaram prematuramente, certamente paira um sentimento de desolação e de perda.

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