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quinta-feira, 9 de julho de 2015

AMANHÃ FERIADO

A Semana da Pátria era bem diferente naqueles tempos de Brasil grande . A campanha ufanista entrava pela porta da frente das escolas e nós, meninos cheios de esperança, cantávamos embevecidos o hino nacional e o hino da bandeira . E mesmo nas ruas ouvia-se e cantava-se instintivamente o sucesso da dupla Don e Ravel, o estrondoso sucesso “Eu te amo meu Brasil”. O povo, imensamente feliz também com o fato do Brasil ter faturado a copa do mundo do México. A musica ufanista era também utilizada amplamente pelo governo em eventos cívicos.
Naquele fatídico 6 de setembro de 1970, eu era um garoto de 8 anos vestido num uniforme quente que no Educandário Imaculada Conceição era denominado de farda de gala. Saímos da formatura na Praça da Matriz, sob o olhar vigilante de D. Caçula que estava atenta aos mínimos detalhes para que seus alunos estivessem simplesmente impecáveis naquele momento tão importante diante das autoridades. A União Lira Paulistana também com seu uniforme de gala entoava dobrados militares.
Ficamos ao sol, perfilados em frente ao Coreto, segurando bandeirinhas de papel, e mais atrás, estavam também os alunos do Martinho Garcez, quando teve início a solenidade com o hasteamento do Pavilhão Nacional. Ao microfone Djalma Nunes por mais de uma hora , na qualidade de orador oficial proferia um discurso no qual não economizava em palavras difíceis e rebuscadas enquanto o prefeito João Teles vestido numa calça de linho branca e uma avantajada camisa volta ao mundo também branca apenas abanava a cabeça.
Djalma usava o seu surrado terno azul e uma gravata preta , aliás a mesma indumentária tão conhecida em centenas de enterros onde com sua empedernida oratória emocionava os freipaulistanos e o credenciava a tão briosa missão. “ Quero aqui dirigir-me, com a alma pejada de orgulho a essas crianças que um dia, no descortinar de uma aurora varonil serão a esperança dessa afortunada nação” “Saudar o presidente Emílio Garrastazu Médice pelas esplendorosas obras e de nos guardar da sombra negra do comunismo que ameaçava esta nação”
E entre homenagens e saudações às autoridades o discursos acabou com a seguinte frase: E agora meus queridos compatriotas: duas palavrinhas do nosso prefeito. O prefeito João Teles , ex-deputado estadual pela Arena e prefeito por diversas vezes era homem de poucas palavras e para não decepcionar seu mestre de cerimônia o seu discurso de fato não passou de duas palavrinhas; “Amanhã feriado” Recebeu uma calorosa salva de palmas.

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