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quinta-feira, 9 de julho de 2015

A TERRA DO OURO BRANCO

Ainda recordo das caçadas e pescarias homéricas onde meu pai Francisco Alves Bastos ao lado de personagens marcantes da vida freipaulistana se aventuravam pelas matas e tanques. Uma imagem que guardo na memória são os campos cultivados com algodão. Era de fato muito bonito ver aquele espetáculo, tudo branquinho, e os roceiros carregando imensos sacos na colheita que dava execelentes resultados financeiros. Também gostava de brincar no Vapor, que em meus tempos de menino eram muitos e fazer peripécias com saltos incríveis e se esconder entre os fardos de lã. Em geral, os donos de fazenda de gado, também eram plantadores de algodão. Além do Fomento pertencente ao Governo Federal, com possante maquinário, localizado na Av. José da Cunha , haviam outras descaroçadoras de algodão, a do Sr. José Arinaldo de Oliveira e outra do seu irmão Bado, ao lado da bodega de Salomão.
Estudos da fundação Joquim Nabuco de Recife resumem a origem dessa cultura que por décadas comandou a economia de Frei Paulo: "Datam de oito séculos a.C. as referências históricas sobre o algodão. Os egípcios o conheciam e cultivavam na Antigüidade; e os Incas, e outras civilizações antigas, já utilizavam o algodão em 4.500 a.C. O algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) é uma planta arbustiva e perene, de crescimento indeterminado, e desenvolvimento vegetativo e reprodutivo simultâneo. A palavra deriva de al-quTum, na língua árabe, porque foram os árabes que, na qualidade de mercadores, difundiram a cultura do algodão pela Europa. Ela gerou os vocábulos cotton, em inglês; coton, em francês; e, cotone, em italiano."
A economia do município experimentou um tempo de muito incremento e investimentos na atividade nas décadas de 60 e 70 graças a coragem desses homens, que acreditaram na cultura do algodão que se revelava altamente rentável. Não faltava dinheiro no bolso do pobre e a fortuna dos ricos se multiplicava. Mas a atividade é bem mais antiga em nosso município. Tendo sido precursor o Sr. Goottchaux Ettinger, um francês judeu que se estabeleceu por aqui no no século 18. No início, o algodão colhido em Frei Paulo era vendido em Itabaiana, mas graças a iniciativa desses homens empreendedores, como no passado Sinhorzinho Barbosa e mais recentemente José Arinaldo e o irmão Bado, faziam a economia do município florescer. Pena que a praga do bicudo , simplesmente dizimou essa cultura, resultado no fechamento das fábricas. Dentre os produtores criou-se um clima de desolação, pois as tentativas de eliminar o besouro foram infrutíferas.
Entre os baluartes da indústria destacamos o mais comprometido, o Sr. José Arinaldo que mesmo tendo parado a atividade, por muitos anos, manteve os equipamentos de sua indústria pronto para a qualquer momento voltar a produzir, gastando com sua manutenção, quando não havia nem sequer um grama da produção que outrora era a maior do estado. Quando assumiu um mandato de deputado estadual em meados da década de 80, José Arinaldo dedicou seu mandato à revitalização da cultura do algodão, estimulado pela experiência de outros estados como o Mato Grosso onde conseguiram controlar a praga. Mas foram infrutíferas suas indicações. O vapor de Sinhozinho Barbosa e do Sr. Antônio Silveira e do Pade Buri,foram também pioneiros, este último foi comprado por seu Augusto que era de Ribeirópolis e fixou residência em Frei Paulo juntamente com a esposa Dona Alice, pais de José Arinaldo. Esse liderava a produção de lã e caroço e abastecia diversas fábricas de tecidos.
Ainda criança lembro dos humildes agricultores se dirigindo ao vapor para vender sacos de algodão, um produto que tinha um bom valor agregado e preço excelente, saiam felizes em direção à praça da feira e voltavam pra casa com muitos mantimentos. Pacotes de grãos de café enrolado em jornal para serem torrados e socados no pilão. Uma quarta de farinha e alguns quilos de carne. O algodão era riqueza para o povo da região. Mas como na economia as regras mudam, não foi diferente com essa atividade que por décadas norteou a economia do município, promovendo muita prosperidade. Por isso há registro histórico em livros de consagrados historiadores a exemplo de Luis Antônio Barreto, onde se refere ao nosso município como a terra do ouro branco.

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