Ainda recordo das caçadas e pescarias homéricas onde meu pai Francisco
Alves Bastos ao lado de personagens marcantes da vida freipaulistana se
aventuravam pelas matas e tanques. Uma imagem que guardo na memória são
os campos cultivados com algodão. Era de fato muito bonito ver aquele
espetáculo, tudo branquinho, e os roceiros carregando imensos sacos na
colheita que dava execelentes resultados financeiros. Também gostava de
brincar no Vapor, que em meus tempos de menino eram muitos e fazer
peripécias com saltos incríveis e se esconder entre os fardos de lã. Em
geral, os donos de fazenda de gado, também eram plantadores de algodão.
Além do Fomento pertencente ao Governo Federal, com possante maquinário,
localizado na Av. José da Cunha , haviam outras descaroçadoras de
algodão, a do Sr. José Arinaldo de Oliveira e outra do seu irmão Bado,
ao lado da bodega de Salomão.
Estudos da fundação Joquim Nabuco de
Recife resumem a origem dessa cultura que por décadas comandou a
economia de Frei Paulo: "Datam de oito séculos a.C. as referências
históricas sobre o algodão. Os egípcios o conheciam e cultivavam na
Antigüidade; e os Incas, e outras civilizações antigas, já utilizavam o
algodão em 4.500 a.C. O algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) é uma planta
arbustiva e perene, de crescimento indeterminado, e desenvolvimento
vegetativo e reprodutivo simultâneo. A palavra deriva de al-quTum, na
língua árabe, porque foram os árabes que, na qualidade de mercadores,
difundiram a cultura do algodão pela Europa. Ela gerou os vocábulos
cotton, em inglês; coton, em francês; e, cotone, em italiano."
A
economia do município experimentou um tempo de muito incremento e
investimentos na atividade nas décadas de 60 e 70 graças a coragem
desses homens, que acreditaram na cultura do algodão que se revelava
altamente rentável. Não faltava dinheiro no bolso do pobre e a fortuna
dos ricos se multiplicava. Mas a atividade é bem mais antiga em nosso
município. Tendo sido precursor o Sr. Goottchaux Ettinger, um francês
judeu que se estabeleceu por aqui no no século 18. No início, o algodão
colhido em Frei Paulo era vendido em Itabaiana, mas graças a iniciativa
desses homens empreendedores, como no passado Sinhorzinho Barbosa e
mais recentemente José Arinaldo e o irmão Bado, faziam a economia do
município florescer. Pena que a praga do bicudo , simplesmente dizimou
essa cultura, resultado no fechamento das fábricas. Dentre os
produtores criou-se um clima de desolação, pois as tentativas de
eliminar o besouro foram infrutíferas.
Entre os baluartes da
indústria destacamos o mais comprometido, o Sr. José Arinaldo que mesmo
tendo parado a atividade, por muitos anos, manteve os equipamentos de
sua indústria pronto para a qualquer momento voltar a produzir,
gastando com sua manutenção, quando não havia nem sequer um grama da
produção que outrora era a maior do estado. Quando assumiu um mandato de
deputado estadual em meados da década de 80, José Arinaldo dedicou seu
mandato à revitalização da cultura do algodão, estimulado pela
experiência de outros estados como o Mato Grosso onde conseguiram
controlar a praga. Mas foram infrutíferas suas indicações. O vapor de
Sinhozinho Barbosa e do Sr. Antônio Silveira e do Pade Buri,foram
também pioneiros, este último foi comprado por seu Augusto que era de
Ribeirópolis e fixou residência em Frei Paulo juntamente com a esposa
Dona Alice, pais de José Arinaldo. Esse liderava a produção de lã e
caroço e abastecia diversas fábricas de tecidos.
Ainda criança
lembro dos humildes agricultores se dirigindo ao vapor para vender sacos
de algodão, um produto que tinha um bom valor agregado e preço
excelente, saiam felizes em direção à praça da feira e voltavam pra casa
com muitos mantimentos. Pacotes de grãos de café enrolado em jornal
para serem torrados e socados no pilão. Uma quarta de farinha e alguns
quilos de carne. O algodão era riqueza para o povo da região. Mas como
na economia as regras mudam, não foi diferente com essa atividade que
por décadas norteou a economia do município, promovendo muita
prosperidade. Por isso há registro histórico em livros de consagrados
historiadores a exemplo de Luis Antônio Barreto, onde se refere ao nosso
município como a terra do ouro branco.
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