O padre José Antônio Leal Madeira , muito querido pelo povo, por mais
de 20 anos foi fiel timoneiro da paróquia de São Paulo,
notabilizou-se por não gostar de meias verdades. O que tinha que dizer
dizia na cara de quem quer que fosse, mesmo que isso pudesse lhe custar
caro, como de fato muitas vezes custou. Era generoso, mas suscitava
muito respeito. Português de nascimento, fez da pacata cidade de Frei
Paulo em Sergipe, sua terra natal por amor aos seu povo ordeiro e muito
devoto do apóstolo São Paulo. Um certo dia , em meio às áridas terras do
sertão, estava ele junto à uma porteira, montado em um jegue
acompanhado do seu auxiliar Zizilo, que também veio a abraçar o
sacerdócio com o mesmo empenho e zelo . Ele estava indo celebrar uma
missa na Lagoa Nova, em uma ensolarada manhã de domingo do ano de 1935.
Mas ao descer do burro, foi abordado pelo temível bando do cangaceiro Zé
Baiano. “Será que você não quer deixar o padre fazer as desobrigas
religiosas?", dirigiu-se ele com voz firme ao cangaceiro e este
imponente, do alto de sua arrogância de homem rico e cruel, olhou nos
olhos do padre e disse: “Num sabia que era o Sr. Vigaro, sua bênça
Vigaro” e beijou a mão do padre Madeira e esse, imediatamente tirou do
seu alfoge um lenço e limpou a baba do facínora. Resmungou algumas
palavras em latim que traduzido seria "Vai para o Diabo" e seguiu em
frente.
Houve um tempo que o terror tomou conta da cidade, todo
mundo vivia apavorado e a todo instante chegavam notícias das ações do
mais perverso grupo de Lampião comandado por Zé Baiano.Eles agiam
armando emboscadas na região de Carira, Cipó de Leite e Alagadiço, que
era seu lugar preferido. Antônio de Chiquinho possuía uma propriedade e
foi obrigado a se tornar coiteiro, pois o destino daqueles que não
aceitavam essa condição era ter sua fazenda invadida e ter toda a
família assassinada pelo bando. Houve um ataque de um conhecido
fazendeiro de Frei Paulo que ao ser molestado conseguiu rolar pelo chão e
correr. Com raiva, Zé Baiano e seu bando matou todas as rezes da
fazenda.
Diante da sanguinária atuação do cangaceiro, Tonho de
Chiquinho e mais seis sertanejos decidiram matar Zé Baiano e seus pares.
Zé Baiano marcou para Antônio de Chiquinho levar a feira e mais 9
contos de reis. Ao chegar na Lagoa Redonda no local combinado, foi logo
ameaçado de morte porque não veio no dia marcado. Contornada a situação,
Zé Baiano e mais três bandidos se refastelaram em uma buchada de bode
regada a muita cachaça; e no momento certo, armados com facões e punhais
o grupo foi atacado e morto. Em meio ao conflito, Chico Peste mesmo
ferido se arrastou em direção a um mosquetão e quase consegue pegar a
arma, mas um dos sertanejos acabou de matar o bandido com golpes de
facão.
Depois disso os corpos foram enterrados em um formigueiro.
Mas a paz não veio com a morte de Zé Baiano, Lampião ao saber do
ocorrido jurou vingança e mandou um bilhete ao Intendente Maurício
Ettinger “Quando menos isperá nois invade sua cidade; num vai iscapá
nem minino de 9 mês, a cabeça do delegado Germino Goes vai rolar”
O
fazendeiro Germino Gois por não aceitar ser coiteiro, teve sua
propriedade invadida diversas vezes por Lampião, jurado de morte passou a
viver no sul da Bahia com Donantônia e seus filhos, entre eles Antônio
de Germino, o industrial que fundou a famosa cachaça Ibiracema de Frei
Paulo. Por muitos meses esse clima de pavor tomou conta da cidade, o
padre Madeira virou para cima a espada de São Paulo, dizem os mais velho
que toda vez que Lampião se preparava para invadir Frei Paulo era
acometido de uma dor nos olhos e nos ouvidos e uma caganeira infernal.
Contam que foi o padroeiro São Paulo que protegeu a cidade da temerosa
invasão do rei do cangaço.
Sob o telhado do Mercado, por meses era
possível ver muitas redes e os panelões e muitas cartucheiras penduradas
onde se abrigou a força volante criada pelo governador Sr. Eronildes
Ferreira de Carvalho, na praça que hoje se chama Capitão João Tavares.
Contava minha saudosa avó materna D. Mizinha que naqueles tempos não
havia diversão na cidade, só apreensão medo e que na feira via mulheres e
até crianças ferradas com a marca JB.
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