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quinta-feira, 9 de julho de 2015

A QUEDA DO CANGAÇO

O padre José Antônio Leal Madeira , muito querido pelo povo, por mais de 20 anos foi fiel timoneiro da paróquia de São Paulo, notabilizou-se por não gostar de meias verdades. O que tinha que dizer dizia na cara de quem quer que fosse, mesmo que isso pudesse lhe custar caro, como de fato muitas vezes custou. Era generoso, mas suscitava muito respeito. Português de nascimento, fez da pacata cidade de Frei Paulo em Sergipe, sua terra natal por amor aos seu povo ordeiro e muito devoto do apóstolo São Paulo. Um certo dia , em meio às áridas terras do sertão, estava ele junto à uma porteira, montado em um jegue acompanhado do seu auxiliar Zizilo, que também veio a abraçar o sacerdócio com o mesmo empenho e zelo . Ele estava indo celebrar uma missa na Lagoa Nova, em uma ensolarada manhã de domingo do ano de 1935. Mas ao descer do burro, foi abordado pelo temível bando do cangaceiro Zé Baiano. “Será que você não quer deixar o padre fazer as desobrigas religiosas?", dirigiu-se ele com voz firme ao cangaceiro e este imponente, do alto de sua arrogância de homem rico e cruel, olhou nos olhos do padre e disse: “Num sabia que era o Sr. Vigaro, sua bênça Vigaro” e beijou a mão do padre Madeira e esse, imediatamente tirou do seu alfoge um lenço e limpou a baba do facínora. Resmungou algumas palavras em latim que traduzido seria "Vai para o Diabo" e seguiu em frente.
Houve um tempo que o terror tomou conta da cidade, todo mundo vivia apavorado e a todo instante chegavam notícias das ações do mais perverso grupo de Lampião comandado por Zé Baiano.Eles agiam armando emboscadas na região de Carira, Cipó de Leite e Alagadiço, que era seu lugar preferido. Antônio de Chiquinho possuía uma propriedade e foi obrigado a se tornar coiteiro, pois o destino daqueles que não aceitavam essa condição era ter sua fazenda invadida e ter toda a família assassinada pelo bando. Houve um ataque de um conhecido fazendeiro de Frei Paulo que ao ser molestado conseguiu rolar pelo chão e correr. Com raiva, Zé Baiano e seu bando matou todas as rezes da fazenda.
Diante da sanguinária atuação do cangaceiro, Tonho de Chiquinho e mais seis sertanejos decidiram matar Zé Baiano e seus pares. Zé Baiano marcou para Antônio de Chiquinho levar a feira e mais 9 contos de reis. Ao chegar na Lagoa Redonda no local combinado, foi logo ameaçado de morte porque não veio no dia marcado. Contornada a situação, Zé Baiano e mais três bandidos se refastelaram em uma buchada de bode regada a muita cachaça; e no momento certo, armados com facões e punhais o grupo foi atacado e morto. Em meio ao conflito, Chico Peste mesmo ferido se arrastou em direção a um mosquetão e quase consegue pegar a arma, mas um dos sertanejos acabou de matar o bandido com golpes de facão.
Depois disso os corpos foram enterrados em um formigueiro. Mas a paz não veio com a morte de Zé Baiano, Lampião ao saber do ocorrido jurou vingança e mandou um bilhete ao Intendente Maurício Ettinger “Quando menos isperá nois invade sua cidade; num vai iscapá nem minino de 9 mês, a cabeça do delegado Germino Goes vai rolar”
O fazendeiro Germino Gois por não aceitar ser coiteiro, teve sua propriedade invadida diversas vezes por Lampião, jurado de morte passou a viver no sul da Bahia com Donantônia e seus filhos, entre eles Antônio de Germino, o industrial que fundou a famosa cachaça Ibiracema de Frei Paulo. Por muitos meses esse clima de pavor tomou conta da cidade, o padre Madeira virou para cima a espada de São Paulo, dizem os mais velho que toda vez que Lampião se preparava para invadir Frei Paulo era acometido de uma dor nos olhos e nos ouvidos e uma caganeira infernal. Contam que foi o padroeiro São Paulo que protegeu a cidade da temerosa invasão do rei do cangaço.
Sob o telhado do Mercado, por meses era possível ver muitas redes e os panelões e muitas cartucheiras penduradas onde se abrigou a força volante criada pelo governador Sr. Eronildes Ferreira de Carvalho, na praça que hoje se chama Capitão João Tavares. Contava minha saudosa avó materna D. Mizinha que naqueles tempos não havia diversão na cidade, só apreensão medo e que na feira via mulheres e até crianças ferradas com a marca JB.

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