Parceiro


domingo, 16 de outubro de 2016

O Gênio Zé de Graça ( Cap 21 )

O rádio naqueles dias de absoluta tensão era a atração de todos os instantes e era comum ver personagens da vida freipaulistana andarem com eles a tiracolo, seja em frente a uma bodega ou bar e chamar a atenção com as últimas notícias sobre a guerra. O temor era geral mesmo o país sendo governado por um regime ditatorial alinhado com o fascismo, o estado novo getulista. O Sr Joaquim, homem já idoso,de hábitos taciturnos, naquele dia abriu o volume do seu possante rádio, e naquela manhã quente do mês de fevereiro de 1942, o locutor narrava com destaque o torpedeamento de embarcações brasileiras pelos alemães em represália a adesão do Brasil à carta do Atlântico. Zé de Graça encostado à parede ouvia atentamente ao noticiário, mas ao invés de apreensão demonstrava curiosidade e desconcertante indiferença ao temor da maioria em participar dessa guerra.
Alguns anos depois em outubro de 1944, recebeu um telegrama para se apresentar imediatamente para ao lado de outros conterrâneos integrar a Força Expedicionária Brasileira. Foi tomado por uma grande alegria e empolgação. Abandonou a roça e o emprego de motorista e no dia seguinte às 5 horas estava ao lado do colega de estudos de música que tanto admirava, João de Santa. Enquanto Zé mostrava-se animado e disposto na nova empreitada o amigo estava extremamente angustiado e sua tristeza era por abandonar sua roça e sua banca de vender cachaça em Carira, ocupações que davam sustento a seus avós de mais de noventa anos, sob seus cuidados que teriam que ficar para trás. Teve que colocar a sua mãe para tomar conta dos idosos A marinete roncou na ladeira da Imbira deixou Frei Paulo para trás e os jovens seguiram para Aracaju, mas ao passar pelo Cafuz as lágrimas rolavam na face do caboclo enquanto declamava alguns versos.
Zé um afoito desbravador e exímio no manuseio de armas, ao passo que o amigo era um poeta que dotado de muita sensibilidade e saudosismo sofria em ter que deixar seus pais e sua música a maior de suas paixões e lutar numa guerra insana. Anos de estudo de teoria musical e logo naqueles dias prestes a pegar o instrumento, teria que aprender a manejar um fuzil e matar pessoas. Ao contrário , Zé de Graça com toda sua timidez, tinha no interior da sua alma muita quietitude, mas também um sangue quente e coragem para embates , qualidades reservadas ao guerreiros. Era um homem de dois extremos. Enxergava na guerra a chance de ouro de pilotar grandes bombardeiros e dominar a tecnologia aeroespacial.
Apresentaram-se no Exército, ambos foram dispensados e voltaram para Frei Paulo, João de Santa não cabia em si de tanta felicidade, outros não tiveram a mesma sorte e levados para a Italia , não voltaram nunca mais . Cerca de 25 000 homens, de um total inicial previsto de 100 000 foram para os campos de batalha. Mesmo com problemas na preparação e no envio, já na Itália, treinada e equipada pelos americanos, a FEB cumpriu as principais missões que lhe foram atribuídas pelo comando aliado. Zé de Graça ainda insistiu com alguns oficiais para ser enviado as frentes de batalha, entretanto, estes o dispensaram .

Nenhum comentário:

Postar um comentário