O rádio naqueles dias de absoluta
tensão era a atração de todos os instantes e era comum ver personagens
da vida freipaulistana andarem com eles a tiracolo, seja em frente a
uma bodega ou bar e chamar a atenção com as últimas notícias sobre a
guerra. O temor era geral mesmo o país sendo governado por um regime
ditatorial alinhado com o fascismo, o estado novo getulista. O Sr
Joaquim, homem já idoso,de hábitos taciturnos, naquele dia abriu o
volume do seu possante rádio, e naquela manhã quente do mês de
fevereiro de 1942, o locutor narrava com destaque o torpedeamento de
embarcações brasileiras pelos alemães em represália a adesão do Brasil à
carta do Atlântico. Zé de Graça encostado à parede ouvia atentamente
ao noticiário, mas ao invés de apreensão demonstrava curiosidade e
desconcertante indiferença ao temor da maioria em participar dessa
guerra.
Alguns anos depois em outubro de 1944, recebeu um
telegrama para se apresentar imediatamente para ao lado de outros
conterrâneos integrar a Força Expedicionária Brasileira. Foi tomado por
uma grande alegria e empolgação. Abandonou a roça e o emprego de
motorista e no dia seguinte às 5 horas estava ao lado do colega de
estudos de música que tanto admirava, João de Santa. Enquanto Zé
mostrava-se animado e disposto na nova empreitada o amigo estava
extremamente angustiado e sua tristeza era por abandonar sua roça e sua
banca de vender cachaça em Carira, ocupações que davam sustento a seus
avós de mais de noventa anos, sob seus cuidados que teriam que ficar
para trás. Teve que colocar a sua mãe para tomar conta dos idosos A
marinete roncou na ladeira da Imbira deixou Frei Paulo para trás e os
jovens seguiram para Aracaju, mas ao passar pelo Cafuz as lágrimas
rolavam na face do caboclo enquanto declamava alguns versos.
Zé um
afoito desbravador e exímio no manuseio de armas, ao passo que o amigo
era um poeta que dotado de muita sensibilidade e saudosismo sofria em
ter que deixar seus pais e sua música a maior de suas paixões e lutar
numa guerra insana. Anos de estudo de teoria musical e logo naqueles
dias prestes a pegar o instrumento, teria que aprender a manejar um
fuzil e matar pessoas. Ao contrário , Zé de Graça com toda sua timidez,
tinha no interior da sua alma muita quietitude, mas também um sangue
quente e coragem para embates , qualidades reservadas ao guerreiros. Era
um homem de dois extremos. Enxergava na guerra a chance de ouro de
pilotar grandes bombardeiros e dominar a tecnologia aeroespacial.
Apresentaram-se no Exército, ambos foram dispensados e voltaram para
Frei Paulo, João de Santa não cabia em si de tanta felicidade, outros
não tiveram a mesma sorte e levados para a Italia , não voltaram nunca
mais . Cerca de 25 000 homens, de um total inicial previsto de 100 000
foram para os campos de batalha. Mesmo com problemas na preparação e no
envio, já na Itália, treinada e equipada pelos americanos, a FEB cumpriu
as principais missões que lhe foram atribuídas pelo comando aliado. Zé
de Graça ainda insistiu com alguns oficiais para ser enviado as frentes
de batalha, entretanto, estes o dispensaram .
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