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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O Gênio Zé de Graça ( Cap. 19 )

O Gênio Zé de Graça ( Cap. 19 )
Aos 23 anos Zé de Graça já era um motorista tarimbado e naquela tarde de sábado recebeu um convite de Sá Benígna e seu esposo Francisquinho Ferreira para levar um lote até Ribeirópolis pois o mesmo pretendia negociar uns couros de boi com alguns catingueiros da região. A tarde já embalada no dorso do dia já beirando as 15 horas, na praça do mercado girava a manivela no afã de funcionar a velha fobica . Sá Benigna se aproximou dos dois e advertiu para não regressarem a noite dessa empreitada porque havia rumores de acontecimentos sobrenaturais naquelas bandas principalmente na antiga estrada que ia dar na Capela do Rastro. Teimosos e torrões os dois seguiram viagem buzinando e assoviando em meio ao frenesi das crianças que seguiam gritando e sorrindo enquanto o automóvel já ganhava velocidade atravessando o bêco do Mamão. Chegaram a Ribeirópolis as 17:30 e Zé foi tomar um café num botequim enquanto Francisquinho negociava o lote de couro. Otavio o comprador era casado com dona Valda e esta trouxe ao vendedor compotas de doce de leite e banana, ele comia e bebia água fresquinha do pote quando D. Valda advertiu. -Já está escurecendo, você e seu motorista devem dormir por aqui na Pensão, ali naquela estrada está acontecendo coisas estranhas, o povo está sendo perseguido pelo fogo corredor. Conversa do povo Valda, disse Otavio enquanto admirava os couros estendidos sobre o pátio do trapiche. Tenho medo dessas coisas não, disse Zé de Graça sorrido para a madame. D. Valda ainda disse onde tem fumaça há fogo! Deixa de bestagem mulher disse Otávio enquanto pagava a encomenda com notas novinhas.
Então os dois resolveram voltar para Frei Paulo quando o crepúsculo já se despedia a escuridão dominava a estrada. Mas assim que desciam a ladeira da Serra Redonda , a fóbica deu um defeito e estancou, os dois no meio daquele breu. Tá com medo Zé? Eu não. Tratou de fazer o conserto com o tato pois nem um candeeiro levaram. De repente um clarão surgiu na frente deles duas enormes bolas de fogo brigavam e quando se batiam voava faíscas que chegou a queimar o bigode de Francisquinho. Foi tudo muito rápido.Um correu para o lado direito da estrada e o outro para o lado esquerdo. As enormes bolas de fogo ficaram indecisas sem saber a quem perseguir. O clarão era tão intenso que parecia o meio dia em plena noite. O dia amanhecia quando os dois esbaforidos e com as roupas rasgadas chegaram à cidade contando a experiência que tiveram com o tal fogo corredor. Já era o dinheiro da venda dos couros.
De acordo com relatos dos mais velhos, se um homem fornicasse com sua comadre (fato inadmissível pela tradição católica), ambos se transformariam no “Fogo-corredor”, assombrando a população sertaneja durante a noite. Em outras regiões, principalmente no Sudeste, acredita-se que a mulher que comete o pecado da fornicação com um padre ou frade, é amaldiçoada a se transformar em “mula-sem-cabeça”, assustando os viajantes noturnos. Diga-se de passagem, que com tais lendas e superstições, as sertanejas pensavam duas vezes antes de traírem os maridos. Cansados voltaram a cavalo ao local e Zé de Graça consertou a fóbica e trouxe para Frei Paulo.

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