O Gênio Zé de Graça ( Cap. 19 )
Aos 23 anos Zé de Graça já era um
motorista tarimbado e naquela tarde de sábado recebeu um convite de Sá
Benígna e seu esposo Francisquinho Ferreira para levar um lote até
Ribeirópolis pois o mesmo pretendia negociar uns couros de boi com
alguns catingueiros da região. A tarde já embalada no dorso do dia já
beirando as 15 horas, na praça do mercado girava a manivela no afã de
funcionar a velha fobica . Sá Benigna se aproximou dos dois e advertiu
para não regressarem a noite dessa empreitada porque havia rumores de
acontecimentos sobrenaturais naquelas bandas principalmente na antiga
estrada que ia dar na Capela do Rastro. Teimosos e torrões os dois
seguiram viagem buzinando e assoviando em meio ao frenesi das crianças
que seguiam gritando e sorrindo enquanto o automóvel já ganhava
velocidade atravessando o bêco do Mamão. Chegaram a Ribeirópolis as
17:30 e Zé foi tomar um café num botequim enquanto Francisquinho
negociava o lote de couro. Otavio o comprador era casado com dona Valda
e esta trouxe ao vendedor compotas de doce de leite e banana, ele comia
e bebia água fresquinha do pote quando D. Valda advertiu. -Já está
escurecendo, você e seu motorista devem dormir por aqui na Pensão, ali
naquela estrada está acontecendo coisas estranhas, o povo está sendo
perseguido pelo fogo corredor. Conversa do povo Valda, disse Otavio
enquanto admirava os couros estendidos sobre o pátio do trapiche. Tenho
medo dessas coisas não, disse Zé de Graça sorrido para a madame. D.
Valda ainda disse onde tem fumaça há fogo! Deixa de bestagem mulher
disse Otávio enquanto pagava a encomenda com notas novinhas.
Então
os dois resolveram voltar para Frei Paulo quando o crepúsculo já se
despedia a escuridão dominava a estrada. Mas assim que desciam a
ladeira da Serra Redonda , a fóbica deu um defeito e estancou, os dois
no meio daquele breu. Tá com medo Zé? Eu não. Tratou de fazer o conserto
com o tato pois nem um candeeiro levaram. De repente um clarão surgiu
na frente deles duas enormes bolas de fogo brigavam e quando se batiam
voava faíscas que chegou a queimar o bigode de Francisquinho. Foi tudo
muito rápido.Um correu para o lado direito da estrada e o outro para o
lado esquerdo. As enormes bolas de fogo ficaram indecisas sem saber a
quem perseguir. O clarão era tão intenso que parecia o meio dia em plena
noite. O dia amanhecia quando os dois esbaforidos e com as roupas
rasgadas chegaram à cidade contando a experiência que tiveram com o tal
fogo corredor. Já era o dinheiro da venda dos couros.
De acordo com
relatos dos mais velhos, se um homem fornicasse com sua comadre (fato
inadmissível pela tradição católica), ambos se transformariam no
“Fogo-corredor”, assombrando a população sertaneja durante a noite. Em
outras regiões, principalmente no Sudeste, acredita-se que a mulher que
comete o pecado da fornicação com um padre ou frade, é amaldiçoada a se
transformar em “mula-sem-cabeça”, assustando os viajantes noturnos.
Diga-se de passagem, que com tais lendas e superstições, as sertanejas
pensavam duas vezes antes de traírem os maridos. Cansados voltaram a
cavalo ao local e Zé de Graça consertou a fóbica e trouxe para Frei
Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário