Parceiro


domingo, 10 de junho de 2018

O Gênio Zé de Graça Capítulo 27

Com um sistema de roldanas que eram movidas por um cata-vento, gerava energia limpa, e acendia lâmpadas num período que a luz elétrica nem sonhava em existir. Era comum, dos equinócios aos solstícios um senhor mulato de nome Joca percorrer as ruas e bêcos de Frei Paulo com uma enorme vara tocha, acendendo as lamparinas no alto dos postes sempre que a noite vinha caindo do ceu.Um recorte de jornal encontrado por acaso trazia a noticia da invenção da lâmpada e traçava um perfil de seu inventor Thomas Alva Edison (Milan, Ohio, 11 de fevereiro de 1847 — West Orange, Nova Jérsei, 18 de outubro de 1931) foi um empresário dos Estados Unidos que patenteou e financiou o desenvolvimento de muitos dispositivos importantes de grande interesse industrial. O Feiticeiro de Menlo Park (The Wizard of Menlo Park), como era conhecido, foi um dos primeiros a aplicar os princípios da produção maciça ao processo da invenção. 
Na sua vida, Thomas Edison registrou 2 332 patentes.] O fonógrafo foi uma de suas principais invenções. Outra foi o cinematógrafo, a primeira câmera cinematográfica bem-sucedida, com o equipamento para mostrar os filmes que fazia. Edison também aperfeiçoou o telefone, inventado por Antonio Meucci, em um aparelho que funcionava muito melhor. Fez o mesmo com a máquina de escrever. Trabalhou em projetos variados, como alimentos empacotados a vácuo, um aparelho de raios X e um sistema de construções mais baratas feitas de concreto.
Entre as suas contribuições mais universais para o desenvolvimento tecnológico e científico encontra-se a lâmpada elétrica incandescente, o fonógrafo, o cinescópio ou cinetoscópio, o ditafone e o microfone de grânulos de carvão para o telefone. Edison é um dos precursores da revolução tecnológica do século XX. Teve também um papel determinante na indústria do cinema. Zé de posse dessas informações num papel de jornal que veio como embalagem do bacalhau que comprou na bodega de Seu Elpídio. Naquele tempo o bacalhau era barato e somente os pobres o consumia. As pessoas compravam e sempre o escondiam para não demonstrar a pobreza. Mas com o passar dos anos virou um iguaria somente acessível aos mais abastados. Com a sua mine usina aeólica desenvolveu diversas lâmpadas em muitos formatos. O interesse por energia o levou a muitos estudos e experiências. Nunca chegou a patentear suas invenções mas sonhava em criar coisas que facilitasse a vida das pessoas. O ápice de seus sonhos foi quando certo dia por acaso caiu na suas mão o livro “A volta ao mundo em 80 dias” , trata-se de um romance de aventura escrito pelo francês Júlio Verne e lançado em 1873. A obra retrata a tentativa do cavalheiro inglês Phileas Fogg e seu valete, Passepartout, de circum-navegar o mundo em 80 dias. É considerada uma das maiores obras da literatura mundial, tendo inspirado várias adaptações ao cinema e ao teatro.Lia e relia essa obra e uma frase jamais esqueceu. O cientista protagonista da trama um dia falou e ele jamais esqueceu: “O progresso não espera ninguém”

sexta-feira, 8 de junho de 2018

O Gênio Zé de Graça Capítulo 26

O jovem branquelo do alto da torre da igreja já contava 18 anos e a altura exercia sobre ele uma magia , algo que parecia parte de si mesmo. Naquela idade enquanto outros rapazes pensavam em namorar ele detinha-se no aprendizado da mecânica e com isso ia dia a dia juntando suas ferramentas e praticando suas experiências secretas. Desenhava protótipos de motores, todos eles fundamentados em aperfeiçoamento do que já existia há poucos anos da primeira grande guerra. Aproveitava um laivo de distração do padre para sorrateiramente ganhar as escadarias e subir subir subir ao seu refúgio. A torre estática sem movimento mas que produzia uma visão colossal de norte a sul onde mirava cada ângulo demoradamente. Ao sul a Serra de Itabaiana, a leste a Serra da Miaba e a sudoeste a Serra das Campinas com seus tons azulados acalmava sua alma aflita. O vento balançava a velha camisa Volta ao Mundo e as horas se esvaiam. Tão furtivamente quanto adentrava aquele território sagrado o deixava sem que ninguém percebesse. Divagava estudando temas como balonismo, aviação ,dirigibilismo. Inspirado nas proezas de Albert Santos Dumont, Zé de Graça começou experiências de dirigibilidade. Ansiava por poder controlar o voo, e para isso desenhou uma série de balões alongados dotados de lemes e motores a gasolina. Sentia nos seus longos ossos que construir sua própria aeronave e poder voar seria uma questão de tempo. Assim voltava para casa e não conseguia dormir mergulhado em devaneios de inventos e fórmulas. Muitas vezes o sono o vencia quando os primeiros raios de sol adentravam o quarto. Estudava exaustivamente os motores e seus sistemas de propulsão e número de cavalos de potência e como aperfeiçoar sob o dilema de diminuir o peso e aumentar a potência. Algo extremamente distante da realidade da mecânica que vivia no dia a dia nas usinas de beneficiamento de algodão dando manutenção e consertando os rudimentares motores cabeça quente. Era chamado assim porque para funcionar precisava aquecer o pistão com um maçarico. Detinha-se nos balões lançados a partir de 1900 e sonhava em deixar Frei Paulo e morar na França. Quem sabe assim conquistar os prêmios Deutsch com motor cilíndrico de 16 cavalos-vapor adaptado a um dirigível. Mas decidiu esquecer, pois temia a fama internacional e certamente o dinheiro que iria atrapalhar mais que ajudar nos seus projetos futuros. Decerto que pouca coisa do que era pedido era inédita. Inventores, em outros países, já haviam cumprido ou até mesmo superado algumas dessas metas. Na Alemanha, Otto Lilienthal efetuou no início da década de 1890 milhares de voos planados descendentes, atingindo com frequência distâncias bem maiores que os 25 metros estipulados pelo Prêmio Archdeacon. E nos Estados Unidos, os irmãos Wright faziam desde 1903 voos cada vez mais longos em planadores motorizados, valendo-se para decolar ora de ventanias, ora de um engenhoso sistema de catapultagem, mas sempre sem qualquer controle oficial. Afinal, estava convencido que Santos Dumont seu admirado compatriota é de fato o primeiro homem a realizar a proeza de alçar voo em um aparelho mais pesado que o ar, sem nenhum artifício, em suas experiências com o Oiseau de Proie (Ave de Rapina).

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

O Gênio Zé de Graça ( Cap. 25 )


Passando pelo Beco do Talho deteve-se diante de uma janela entreaberta e passou a se deleitar com as imagens de um televisor preto e branco, com um leve sorriso por alguns minutos observou um menino vidrado na tela e assistindo a série “Perdidos no Espaço” ficava embevecido com aquele mundo maravilhoso de computadores e equipamentos da nave. Sentia-se familiarizado com aquele mundo ultra moderno. Era meado dos anos 70 e o acumulado dos anos já pesava sobre suas costas. Já não se movimentava em sua bicicleta com tanta desenvoltura. Ernest Filkins seria o único homem a ter realizado o feito de viajar no tempo. Um grande marco que o fazia se sentir especial e ao mesmo tempo, tremendamente egoísta. Mas ele também sentia que sua inteligência lhe permitia viajar no tempo como quem vai de Carira para Ribeirópolis e por isso passou a juntar peças e desenvolver cálculos mirabolantes. Eram noite e noites mal dormidas e entre fracassos e sucessos um dia: Eureca. Encaixou a última peça da máquina voadora, pois assim batizou a engenhoca . A sirene da velha ambulância abandona foi a última peça do quebra cabeça e com as transformações produzia. Era em forma de cápsula desenvolvido sob medida, feito com uma liga de grafeno e zircônio, tão leve a ponto de ser carregado com facilidade, porém, tão resistente quanto, capaz de suportar às mais variadas condições de pressão e temperatura. Inspirado no protótipo de Ernest. E assim fez da velha sirene de ambulância que agora em silêncio produzia o anti-som, exatamente o contrario de movimentos e com isso obteve o segredo de viajar no tempo e no espaço. "Um Acelerador de partículas de Transmodificação Extra-tempo por Deformação Gravitacional" um mistério que levou consigo para a cova. Cada dia tornava-se mais reclusos e por aqueles dias transbordava uma alegria incontida por tão inusitado feito em favor da ciência. Por vezes agradecia a Deus pelo que havia descoberto e por outras deixava no recôndito dos seus pensamentos ser possuído por um sentimento de ceticismo que beirava a heresia. Naquela tarde sentiu uma pontada no fígado uma dor que o fez ficar acamado. E foi essa doença que alguns anos depois o levaria a morte. Mesmo doente não parava de se aprofundar nos estudos profundos e sob o mais absoluto segredo passou a construir a sua máquina do tempo. Entre o projeto e a finalização do invento foram exatos doze anos. Mantinha-se feliz a cada dia por tamanho feito e a mente agoniada e contraída pelo contínuo esforço de realizar esse sonho, acabou retardando sua doença sem negar é claro as medicações produzidas pelo seu amigo alquimista Zé Caixeiro. Sempre que fechava os olhos para dormir um turbilhão de cálculos povoava sua mente e por estar até a alma envolvido nesse projeto fazia pouco caso para as atribuições do dia a dia, os objetos empoeirados e esquecidos na oficina era a demonstração mais clara de tudo isso. Naquele dia que encaixou a última peça da engenhoca caiu em sono profundo com a sensação do dever cumprido. Encontrar a equação-chave para resolver os problemas e os paradoxos da distorção gravitacional é uma das grandes dificuldades da comunidade científica. E ele conseguiu finalmente tudo isso.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

O Gênio Zé de Graça (Cap 24)





Numa chuvosa quarta feira de um agosto tristonho de muitas perdas e recordações de muitos amigos que partiram para o além, moveu seu corpanzil branco e esquálido em direção a Igreja . Precisava se fortalecer espiritualmente para mais uma longa viagem na máquina voadora rumo a um planeta muito distante . Foi sozinho e sentou na última fila para ouvir o padre João discorrer com uma grande dramatização uma passagem bíblica do apocalipse. Ouviu atento e saboreou cada palavra sem o temor que normalmente sentiam os pobres mortais que ao seu lado acompanhava a pregação. Ao fim das atemorizantes palavras do padre , dirigiu-se em silêncio para sua casa. A mulher tentou conversar e ele nada respondia, ela conhecendo suas estranhas manias foi dormir.
Passara aquela madrugada em claro debruçado sobre os projetos da máquina voadora fazendo um Checklist de viagem . Nunca havia ousado fazer uma viagem daquela magnitude em direção a um planeta que ficava centena de anos luz da terra. Nas primeiras horas da manhã já estava no quintal pronto para viajar. Adentrou a máquina voadora e alguns segundos depois sentiu os solavancos já no pouso do distante planeta. Viu que a vegetação e o clima se assemelhava os da terra. Por isso não precisou de roupas especiais.
Onde pousou era uma planície e aquela civilização era bem avançada , seres humanos e humanoides estavam por toda parte. Assim que chegou percebeu que o clima era de guerra, enormes naves espaciais pairavam no espaço , disparando suas armas destruindo tudo que via pela frente. Diante daquele clima hostil, imediatamente retornou à máquina voadora e iniciou o processo de decolagem. Porém uma faísca atingiu a sua nave . não foi nada grave apenas a sirene da ambulância instalada no topo de sua nave foi danificada. Nada muito sério , então rapidamente se escafedeu daquele mundo prestes a ruir.
Na aproximação resolveu pousar no monturo que havia próximo a avenida. Camuflou sua nave e caminhou calmamente em direção a sua casa. Mas D. Elvira esposa de Seu Albede que estava com uma tremenda enxaqueca resolveu tomar um ar, o dia já clareava quando soltou um grito que acordou metade da cidade. Assustado Zé Correu para o quarto e se trancou. Ficou maluco quando no espelho viu que estava sem cabeça.
Então lembrou da pequena avaria, voltou com um saco lhe cobrindo, à nave e consertou a velha sirene de ambulância, então grande foi sua alegria quando viu que estava inteiro. As seis da manhã a mulher lhe chamou. -Zé porque não falou comigo ontem a noite? –Desculpe mulher, é que perdi a cabeça.

domingo, 23 de outubro de 2016

O Gênio Zé de Graça ( cap. 23)


Dispensado da guerra, acompanhou cada acontecimento , ouviu no rádio a voz sentida e solene do imperador Hirohito; declarando a rendição do Japão na segunda grande guerra em agosto de 1945. Tudo isso após a explosão de duas bombas nucleares. A humanidade jamais seria a mesma, pensou Zé de Graça com seus borbotões. Estava ali atento aos fatos e passou se se tornar cada dia mais reflexivo acerca da vida. Passou então a uma fase existencialista onde fazia sérios questionamentos às vésperas de tocar as trombetas da década de 50. Era um homem interrogativo mas não havia ninguém, absolutamente ninguém para dividir suas indagações metafísicas acerca da vida. Sentia-se por isso triste e diferente. Foi ai que conheceu uma jovem que veio a ser sua esposa, que mesmo apesar de não possuir conhecimentos e nem leitura, tinha com ele uma enorme afinidade espiritual. Então passou a dividir com ela seus momentos, momentos de prazer sem ser taxado de louco. Ele e ela, mesmo diante de toda a pressão dos falsos moralistas que existiam e existem em toda parte, em Frei Paulo, não seria diferente. Resolveram viver o amor. E assim, casaram e viveram em harmonia por muitos anos , sem ter filhos. E foi em meio ao clima de muitos avanços científicos que vieram depois da guerra que pode se aprofundar nos estudos e exercer suas atividades, sempre voltadas para a ciência.
Mas no fundo tinha um enorme orgulho de si mesmo, principalmente por não pensar igual aos idiotas e de não levar uma existência medíocre sem sonhos e sem aventuras. Aumentou então sua fé em Deus e passou a ser mais religiso, frequentando a missa assiduamente O fim da guerra foi motivo de muita alegria , sentia-se triste em ver essa realidade “Os homens de todas as nações estão armados até aos dentes, para entreassassinarem-se entre si, feitos imbecis.” Então resolveu meter a cara na vida e simplemente viver. Buscar os livros e as experiências e se entregar ao amor . Zé e Joaninha viveram isolados no próprio mundo deles e não resta dúvida que foram muito felizes, Se fosse dar ouvidos as conversas e fofocas comuns na província estaria fadado à solidão. Mas por mais intima e sedutora que fosse essa convivência , alguma coisa faltava e Zé se debruçava mais uma vez sobre o seu primeiro projeto científico, o sistema propulsor de andores , então por anos rondou a sacristia , sempre solícito ao novo pároco no afã de ver realizado sua obra. O sistema era para ser aplicado não só na festa de São Paulo mas em qualquer procissão, dispensando o uso de mãos humanas para conduzir as imagens sagradas da santa igreja católica.
Ficou muito amigo do padre João Lima, mas nunca encontrava o momento ideal para apresentar o projeto, o padre João era um verdadeiro furacão e não parava um minuto, estava sempre em busca de realizar novos projetos sociais e pouco tempo tinha para ouvir os devaneios de Zé de Graça, sempre alheio às escaramuças políticas daquela época.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

O Gênio Zé de Graça ( Cap. 22 )


Numa manhã ensolarada de dezembro Zé de Graça que era quase um celibatário passou a sofrer constante assédios sexuais de uma coroa balzaquiana , moradora da rua de Itabaiana. Era um jovem elegante e solteiro e adentrava com frequência os lares para realizar qualquer tipo de reparo. Então esta senhora recatada que costumava ir à missa com um vel sobre a cabeça e rezar por horas à fio e por fim sorver com sua língua de serpente a óstia das mão dadivosas do padre João Lima. Na missa, um certo dia ela sentou ao lado de Zé de Graça, mas tão próximo que este ficou meio sem graça afinal a timidez era um dos traços mais fortes de sua personalidade. Dona Gertrude morava ali com uma prima professora e ao que parece já tinha ficado pra titia. É certo que Zé de Graça era solteiro nessa época e como todo jovem tinha a mente povoada por desejos insondáveis. O seu forte sempre foi a discrição, cuidadoso no falar e agir. Um belo dia quando caminhava pela praça, próximo ao coreto, foi abordado por D. Gertrude. – Sabe o que é Zé? É a minha cafeteira que tá esquentando demais, passe lá em casa pra dar uma olhadinha, disse ela com um sorriso malicioso nos lábios. Zé se prontificou a ir no dia seguinte pela manhã. E assim às 10 horas de um domingo ensolarado de 1960, chamou na residência de D. Gertrude. Do interior da casa uma voz lânguida ecou naquele mesmo instante. Pode entrar.
Zé entrou na casa que tinha mosaico quadriculados, cuidadosamente encerado e uma mobília colonial, antiga com centros, baús, cristaleiras e dezenas de bibelôs espalhados por todo lado. Na sala D. Gertrude ofereceu logo um refresco de pitanga e se insinuou toda perfumada usando um vestido negro provocante. Zé tomou o refresco de um só gole e desconfiado de tanta gentileza, perguntou pela cafeteira e ela disse : Está naquele quarto espere um momento. Então a mulher entrou no quarto e alguns minutos depois o chamou. Mas este ao entrar, se deparou com uma cena inusitada. D Gertrude deitada na cama sem roupas e proporcionando um espetáculo que o deixou de queixo caído. A enorme genitalha cercada de pelos grossos como arames tão fartos como a mata de Sizino sendo manuseada com maestria por dedos ágeis enquanto ela soltava gritos e sussurros e dizia olhando fixamente nos seus olhos: - Veja Zé como está quente. Pelo amor de Deus dê um jeito nisso. O cheiro demoníaco de sexo impregnou suas narinas e até suas roupas.
Diante daquela visão tão inesperada Zé de Graça teve uma tremedeira e ficou estático, mas em seguida voltou a si e saiu em disparada pelo corredor da casa, branco, sem sangue, ofegante , estava morto de vergonha. Jamais ele comentou com ninguém o que havia acontecido. Levou para o túmulo esse inconfessável segredo de alcova Nos dias seguintes encontrava D. Gertrude na missa e esta lhe sorria sempre com a costumeira malícia, mas recatada era a primeira a entoar as ave marias e a puxar as rezas na igreja, sempre recatada e contrita.

domingo, 16 de outubro de 2016

O Gênio Zé de Graça ( Cap 21 )

O rádio naqueles dias de absoluta tensão era a atração de todos os instantes e era comum ver personagens da vida freipaulistana andarem com eles a tiracolo, seja em frente a uma bodega ou bar e chamar a atenção com as últimas notícias sobre a guerra. O temor era geral mesmo o país sendo governado por um regime ditatorial alinhado com o fascismo, o estado novo getulista. O Sr Joaquim, homem já idoso,de hábitos taciturnos, naquele dia abriu o volume do seu possante rádio, e naquela manhã quente do mês de fevereiro de 1942, o locutor narrava com destaque o torpedeamento de embarcações brasileiras pelos alemães em represália a adesão do Brasil à carta do Atlântico. Zé de Graça encostado à parede ouvia atentamente ao noticiário, mas ao invés de apreensão demonstrava curiosidade e desconcertante indiferença ao temor da maioria em participar dessa guerra.
Alguns anos depois em outubro de 1944, recebeu um telegrama para se apresentar imediatamente para ao lado de outros conterrâneos integrar a Força Expedicionária Brasileira. Foi tomado por uma grande alegria e empolgação. Abandonou a roça e o emprego de motorista e no dia seguinte às 5 horas estava ao lado do colega de estudos de música que tanto admirava, João de Santa. Enquanto Zé mostrava-se animado e disposto na nova empreitada o amigo estava extremamente angustiado e sua tristeza era por abandonar sua roça e sua banca de vender cachaça em Carira, ocupações que davam sustento a seus avós de mais de noventa anos, sob seus cuidados que teriam que ficar para trás. Teve que colocar a sua mãe para tomar conta dos idosos A marinete roncou na ladeira da Imbira deixou Frei Paulo para trás e os jovens seguiram para Aracaju, mas ao passar pelo Cafuz as lágrimas rolavam na face do caboclo enquanto declamava alguns versos.
Zé um afoito desbravador e exímio no manuseio de armas, ao passo que o amigo era um poeta que dotado de muita sensibilidade e saudosismo sofria em ter que deixar seus pais e sua música a maior de suas paixões e lutar numa guerra insana. Anos de estudo de teoria musical e logo naqueles dias prestes a pegar o instrumento, teria que aprender a manejar um fuzil e matar pessoas. Ao contrário , Zé de Graça com toda sua timidez, tinha no interior da sua alma muita quietitude, mas também um sangue quente e coragem para embates , qualidades reservadas ao guerreiros. Era um homem de dois extremos. Enxergava na guerra a chance de ouro de pilotar grandes bombardeiros e dominar a tecnologia aeroespacial.
Apresentaram-se no Exército, ambos foram dispensados e voltaram para Frei Paulo, João de Santa não cabia em si de tanta felicidade, outros não tiveram a mesma sorte e levados para a Italia , não voltaram nunca mais . Cerca de 25 000 homens, de um total inicial previsto de 100 000 foram para os campos de batalha. Mesmo com problemas na preparação e no envio, já na Itália, treinada e equipada pelos americanos, a FEB cumpriu as principais missões que lhe foram atribuídas pelo comando aliado. Zé de Graça ainda insistiu com alguns oficiais para ser enviado as frentes de batalha, entretanto, estes o dispensaram .