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terça-feira, 15 de dezembro de 2015
UM TAL DE ENGENHEIRO JORGE
Na década de 70 Frei Paulo sediou o acampamento central da Odebrecht, na obra de pavimentação da BR 235. De uma hora para outra a cidade fora invadida por forasteiros egressos de diversas partes do pais. A cidade lembrava uma Serra Pelada dos sertões com a alforria do comércio e um entra e sai de insólitos visitantes. Muitos deles se incorporaram ao dia a dia da cidade e mesmo quando a obra acabou , fincaram raízes, constituindo famílias e se tornando freipaulistanos de coração a exemplo de Zé Priquitinho.
As obras prosseguiam em seu ritmo frenético e personagens foram ganhando corpo na vida pacata da cidade. Entre esses personagens um criolo bem falante , dado a hábitos nobres, encarregado da empresa com carta branca para fiscalizar e demitir ou admitir. Esse baiano bom vivan chamava-se Jorge Bafafa. Era uma cara muito brincalhão, sorriso largo e bom de papo , logo conquistou muitas amizades. Mas gostava de se gabar e onde chegava , apesar de sua parca formação técnica se apresentava como uma autoridade da construtora. E de fato era.
Ironicamente os peões colocaram o apelido “Bafafá” porque apesar de ser boa praça era muito exigente nas suas tarefas de campo e tinha como ninguém habilidade para lidar com a peãozada. Nos finais de semana ocupava lugar de destaque no clube tendo sempre à mesa um whisky, que alias fazia questão de oferecer doses generosas a todos, ai começava seu festival de gabolices tendo ao fundo o som de Benito di Paula sucesso da época. Depois da quarta dose, dizia alto e bom som que era Dr. Engenheiro Jorge. Tinha até musica em sua homenagem feita pelo Baiano, morador da Avenida, um poeta de mão cheia que tocava muito bem violão em inesquecíveis serestas e compunha com maestria. “É duro enfrentar fila, ganhar pouco e ainda pagar pra cantar, e quando chego atrasado um pouquinho um tal de engenheiro Jorge ainda vem me reclamar”
No campo, onde a obra se consolidava no reverberar das manhãs , tratores e caçambas num frenético vai e vem sob a poeira vermelha revelava-se personagens incríveis que tão repentino quanto surgiam, desapareciam como que por encanto naquela obra antológica.
Honorato, Expedito, João Come Longe, Coutinho , Ciço, Paulo Ofimec,Rasga Magra, Luis Caçambeiro, Euclides, Belos Olhos, Costinha entre tantos outros tão cheios de aventuras que transformaram a vida pacata da cidade num redemoinho de mitológicas empreitadas. Sem falar nas pequenas tragédias protagonizadas pelas pratas da casa Porrão e João Tandola em suas velozes e temerárias manobras.
Foi um tempo diferente, mas muito interessante para quem teve o privilégio de vivenciar. Quem se lembra do casal Vandica e Guerrinha que montavam seu restaurante caseiro onde havia obra. Em Frei Paulo eles ficaram por anos alí ao lado da casa paroquial. Mas apesar de todo o folclore, das brigas e amores impossíveis, boatos de adultérios que se perderam no tempo, romances secretos e outros que perderam a vida em acidentes. Bebedeiras homéricas que varavam madrugadas a fio. Restaram pontes e uma estrada. Linda estrada, algo que até hoje traz progresso e riqueza para a cidade. E um cesto de reminiscências perdidas em qualquer lugar da memória.
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