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terça-feira, 1 de setembro de 2015

CALOU O CLARINETE, CHORA O CAVAQUINHO


Encontrar adjetivos para qualificar o virtuosismo de João de Santa é tarefa fácil para qualquer um que teve a felicidade de conhecer aquele caboclo sereno de voz pausada, olhar firme e altaneiro tomado de amor pelo seu torrão e apaixonado pela sublime arte da música. Não quis para si somente o dom concedido divinamente, não, com grandeza d’álma partilhou essa arte com gerações e gerações formando mais do que simples músicos, mas verdadeiros discípulos, burilando caráter e mostrando sua própria existência alicerçada na simplicidade, como farol para essa plêiade de jovens vibrantes. Uma vida de amor profundo a suas raízes que culminou em um trabalho que frutificou de forma avassaladora trazendo para si a realização e a certeza do dever cumprido. A União Lira Paulistana que tanto orgulho traz aos freipaulistanos, presente nas mais expressivas passagens de nossa história se confunde com a própria vida de João de Santa. Foi o seu incondicional amor a arte que forjou aquela respeitada instituição que deu e dá sentido e alento à vida de muitos jovens; em tempo de tantas veredas perigosas para nossa juventude, a União Lira Paulistana sempre foi um porto seguro , onde pais sempre tiveram a certeza de que seus filhos estão trilhando nobres caminhos.
João de Santa tomou para si essa missão tão dignificante e fez dela sua razão de viver, pelo dia pelejava nas roças , às voltas com o manejo da terra com o plantio de milho, feijão, algodão e essas mesmas mãos calejadas, à noite discorria em belos solos de seu plangente cavaquinho em noites enluaradas regadas a poesia da mais fina lavra. Assim os anos foram passando e a rotina de maestro o enchia de prazer. Paciente sabatinava por horas a fio seus alunos de música. Teimando em estudos profundos da partitura, e por fim repetidos exercícios em busca da nota perfeita. Quem passou pela sua mão sabe o que é ser músico de verdade.
Talentoso multe instrumentista, tocava clarinete com perfeição e o ouvido diapasão, estava pronto a captar qualquer deslize de sua orquestra dos sonhos. Escreveu alguns dobrados com a inspiração de um tarimbado mestre. Mas hoje , como tudo nessa vida que é transitório, João de Santa nos deixou, tão serenamente e tão altaneiro que lembra um acorde se perdendo na amplidão do universo. Ou suas tocatas quêrulas. Assim migrou de uma vida de limitações para a liberdade do cosmos. Há de percorrer galáxias e por fim pousar em uma estrela distante onde outros astros o aguardam, assim foi com Mozart, Carlos Gomes, Vivaldi, Beethoven. Deixou para trás somente a saudade, hoje Frei Paulo pranteia sua partida e ainda perplexo se despede do velho corpo cansado de tantas lutas, mas o seu espírito, certamente já ganhou asas em busca da plenitude. E aqui ficamos nós, calou o cavaquinho chora o clarinete. (Assita a cobertura completa em www.papagaiotv.com)